segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Descobertas do passado e para o futuro - Retrospectiva 2010

Aqueles que gostam de acompanhar as últimas descobertas da ciência e novidades da tecnologia certamente encontraram em 2010 um prato cheio. Pesquisadores apresentaram muitas novidades, ou pelo menos promessas de mudanças que poderão mudar a vida das pessoas num futuro nem tão distante assim.

Curiosamente, as notícias mais interessantes nessa área caminham em duas direções opostas: passado e futuro.
No passado: Humanos descobriram que tem em seu DNA um pouco do Homem de Neandethal. Ou seja: alguém pulou a cerca na pré-história.
No futuro: Primeiro planeta em condições de abrir a vida humana foi descoberto fora do sistema solar. Pode rolar colonização humana...
E mais. Cientistas criam primeira bactéria artificialmente, por meio da decodificação de seu código genético. Avião movido a energia solar promete nova possibilidade de transporte não poluente; a vida transborda nas descobertas de espécies inusitadas, catalogadas pelo novo censo marinho.


 TRANSPLANTE DE ROSTO

O primeiro transplante total de rosto aconteceu em julho deste ano. Logo depois do evento, o transplantado, um espanhol de 31 anos, identificado apenas por Oscar, apareceu diante das câmeras de TV para agradecer aos profissionais envolvidos e à família do doador.
Foram 24 horas de cirurgia para devolver ao paciente um rosto inteiro, com queixo, nariz, maçãs do rosto, músculos, dentes e pálpebras. Havia cinco anos que ele não conseguia respirar ou comer sozinho, depois de atirar acidentalmente em si mesmo.
Embora a cirurgia tenha sido bem sucedida, Oscar ainda passará por um longo período de recuperação. Segundo  o chefe da equipe cirúrgica, Joan Pere Barret, ele precisará de um ano a um ano e meio de fisioterapia para que possa  recuperar até 90% de suas funções da face.
Logo que deixou o hospital, o transplantado já conseguiu beber e ingerir alimentos macios, além de falar.  Ele também passou a ter sensibilidade no rosto e já recuperou alguns movimentos dos músculos faciais.
Em 2005, na França, já havia sido feito um transplante parcial de rosto. De lá para cá, outras cirurgias semelhantes já estão sendo feitas, mas nenhuma dela de forma completa como aconteceu com Oscar.
HOMEM PRIMITIVO
Por essa ninguém esperava. O homo sapiens, espécie a que a humanidade pertence, tem um pouco do primitivo homem de Neanderthal em sua herança genética.  A descoberta, revelada em maio por uma equipe internacional de cientistas, indica que, em algum momento do passado, as duas espécies procriaram.
Segundo o estudo,  publicado na revista “Science”, de 1% a 4% do genoma humano (2% de seus genes) provêm do homem de Neanderthal, que apareceu há cerca de 400.000 anos e se extinguiu há 30.000 anos.
Os pesquisadores, liderados pelo professor de engenharia biomolecular Richard Green, da Universidade da Califórnia, avaliam que o contato entre as duas espécies ocorreu de 50.000 a 80.000 anos atrás, provavelmente quando os primeiros Homo sapiens saíram da África e se espalharam pelos demais continentes.
VIDA EM MARTE?
Em junho, a Nasa anunciou a comprovação de que em Marte há ambientes que já foram favoráveis ao aparecimento da vida. Isso porque verificaram-se vários indícios de que o planeta possuiu, no passado, regiões úmidas e não áridas, favoráveis à existência de vida humana.
A Nasa já havia encontrado outras evidências, porém estudos indicaram locais possivelmente ácidos. Já as amostras examinadas pelo veículo Spirit, em 2005, revelaram altas concentrações de carbonato, mineral em condições úmidas e de ph quase neutro.
A descoberta de que é possível sobreviver em Marte tende a ser uma das mais importantes desde o envio das sondas marcianas. E a região que mais chamou a atenção foi a de Comanche, entre os morros Husband e a planície Home Plate.

O carbonato de magnésio encontrado constitui cerca de um quarto do volume medido. A quantidade é dez vezes maior do que qualquer concentração previamente medida em rochas marcianas.
Altas concentrações desse mineral, segundo os cientistas, confirmam teorias sobre passado do planeta, que teria sido quente e com água em abundância.
SENSO MARINHO
Depois de 10 anos de estudos, foi concluído em outubro o senso marinho, que revelou descobertas de novas espécies exóticas, que poderão ajudar na avaliação de ameaças como mudanças climáticas, entre outras catástrofes. Entre elas, os efeitos o recente vazamento de petróleo em um poço da British Petroleum (BP) no golfo do México.
O número de espécies marinhas de animais e plantas maiores que micróbios aumentou de 230 mil para 250 mil. Mas os cientistas calculam ainda serem descobertas mais de 750 mil espécies em profundezas abissais e em partes do Ártico, Antártida e Pacífico.
O estudo detectou seis mil espécies potencialmente novas, como crustáceos e moluscos e descrições formais de mais de 1.200 animais. Foram contabilizadas, ainda, mais de oito mil espécies de peixes e mamíferos na área em que houve o vazamento da BP.
Os investimentos atingiram o montante de 650 milhões de dólares e envolveu 2.700 especialistas em 80 países. Entre descobertas, os cientistas apontaram um caranguejo de garras peludas, um peixe luminoso, um tipo de camarão já considerado extinto e uma lula de sete metros de comprimento.
EXOPLANETA HABITÁVEL
Em setembro, uma noticia despertou a atenção de estudiosos, cientistas e curiosos em geral: a descoberta do primeiro exoplaneta habitável, por uma equipe de “caçadores de planetas”.
O exoplaneta, ou planeta fora do sistema solar, tem quase o mesmo tamanho da Terra e orbita uma estrela na constelação de Libra, a 20 anos luz de distância, conforme anunciaram os astrônomos da Universidade da Califórnia e do Instituto Carnegie, em Washington.
Este seria o primeiro planeta possível de ser colonizado. Outros dois já foram encontrados, porém nas extremidades, onde a temperatura é muito fria ou muito quente, o que inviabilizaria a colonização.
Para ser potencialmente habitável, um planeta precisa oferecer recursos para formação da vida, como a existência de água líquida e atmosfera, condições  encontradas no exoplaneta recém-descoberto.
CÉLULAS TRONCO
Em outubro, um grupo de médicos americanos que atuavam no tratamento de um paciente com lesões na medula espinhal iniciou os primeiros testes clínicos com células-tronco embrionárias.
As células-tronco foram utilizadas pela empresa Geron Corp, que não quis revelar os detalhes do ensaio. Ela obteve a primeira licença da Food and Drug Administration (responsável pela regulação de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos) e utilizará essas células para o tratamento de humanos.
Para esse primeiro tratamento, o paciente inscreveu-se no Shepherd, um hospital de reabilitação de lesões na medula espinhal e do cérebro e no centro de pesquisas clínicas de Atlanta, na Georgia.
A Geron utiliza as células-tronco de embriões humanos descartados em tratamentos de fertilidade. O objetivo é que elas se desloquem para o local de alguma lesão recente na espinha. Assim, poderão emitir compostos para ajudar os nervos danificados na medula a se regenerarem.
BACTÉRIA ARTIFICIAL
Pesquisadores do instituto de ciências californiano  J. Craig Venter anunciaram, em maio, uma conquista inédita. Pela primeira vez na história, reproduziram um organismo vivo a partir de um genoma criado em laboratório.
O primeiro mapa genético criado artificialmente sintetiza uma bactéria já existente, a Mycoplasma mycoides, que possui estrutura bastante simples. Seu seqüenciamento foi copiado interamente em laboratório e implantado numa célula receptora, que sobreviveu e se reproduziu.
A partir da experiência, os cientistas esperam usar o software que criou a bactéria para finalidades mais práticas, como produzir remédios, vacinas e combustíveis menos poluentes, segundo informa a revista “Science”, que publicou a pesquisa.
AVIÃO MOVIDO A ENERGIA SOLAR
O primeiro avião movido a energia solar estreou sua decolagem em julho. O Solar Impulse saiu do aeroporto de Payerne, na Suiça, e viajou por cerca de 25 horas. O comandante, André Borschberg, co-fundador do projeto, pretende usar a aeronave para dar a volta ao mundo, em 2012.
O avião possui 12 mil células fotoelétricas, sua única fonte de energia. Elas se localizam nas asas e dão suporte a quatro motores, cada um com potência de 10 cavalos. A expectativa é de que o avião atinja a altitude de até 8.500 metros para carregar as baterias e mais 1.500 para manter o vôo noturno.
Tão logo seja finalizado o projeto, ele se tornará um marco na história da aviação.  Será a primeira vez que um avião movido a energia solar voará durante tantas horas e nas altitudes constatadas. Para tornar esse projeto realidade, a equipe trabalhou nos últimos sete anos “sonhando com este dia”, disse Borschberg.
ÁGUA EM ASTERÓIDE
Pesquisadores que já haviam descoberto a presença de gelo em moléculas orgânicas em um asteróide, identificaram, em outubro, outro corpo do mesmo tipo, o asteróide 65 Cybele.  Isso comprova a tese de que há regiões do Sistema Solar com mais água congelada do que se imaginava.
A constatação é do cientista Humberto Campins, de uma das equipes da Universidade da Flórida Central que pesquisa o assunto.  Para ele, “isso apoia a teoria de que asteroides podem ter atingido a Terra e trazido ao nosso planeta água e os tijolos básicos para que a vida surgisse e evoluísse aqui."
O asteróide 65 Cybele é maior que o 24 Themis, encontrado em estudos anteriores. Ele tem diâmetro de 290 km, enquanto o outro asteroide apresentou 200 km. Tanto um quanto o outro foram encontrados na região do cinturão de asteroides, localizada entre Marte e Júpiter.
AQUÍFERO DA AMAZÔNIA
O Aquífero Alter do Chão, reserva subterrânea natural da região amazônica, foi apontado como o de maior volume de água potável do mundo. Essa é a conclusão de estudo desenvolvido por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA).
A reserva está localizada sob os estados do Amazonas, Pará e Amapá, com um volume de 86 mil km³ de água doce, suficiente para abastecer em aproximadamente 100 vezes a população mundial. Segundo os geólogos, há possibilidade do aqüífero ser ainda maior do que o calculado inicialmente.
De acordo com um dos geólogos, Milton Matta, que desenvolve a pesquisa, existem indicativos suficientes para se afirmar tratar-se do maior aquífero do planeta, já que localiza-se sob a maior bacia hidrográfica do mundo, que é a do Amazonas/Solimões. Ele e seu grupo propõem batizar a reserva de Aquífero Grande Amazônia, “para que tenha uma visibilidade comercial mais interessante”, concluiu.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

25 anos de Ordenação do Mons. Orlando e Pe. Eudásio

Com muita satisfação participei de um almoço festivo alusivo aos 25 de sarcedócio do Mons. Luiz Orlando e do Pe. Eudásio, homens sérios que honram o caminho escolhido.
Fica toda nossa alegria de poder celebrar com essas duas figuras ímpares da diocese de Quixadá uma data tão importante para nosso povo.
Um grande abraço e desejamos mais, pelo menos, 25 anos de dedicação aos mais necessitados.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Pílulas Robóticas

Uma viagem pelo corpo humano não é mais mera fantasia. Pequenos aparelhos logo poderão realizar cirurgias, administrar medicamentos e ajudar no diagnóstico de doenças


O filme VIAGEM FANTÁSTICA, a história de uma equipe de médicos miniaturizados percorrendo vasos sanguíneos para fazer operações salvadoras no cérebro de seus pacientes, era pura ficção científica quando foi lançado em 1966. Quando Hollywood o refilmou em 1985, como a comédia Viagem insólita, engenheiros do mundo real já haviam começado a construção de protótipos de robôs do tamanho de pílulas para viajar pelo trato gastrointestinal de um paciente em substituição do exame médico tradicional. As primeiras câmaras em cápsulas começaram a ser usadas em 2000, e desde então os médicos as têm utilizado para obter imagens de locais como as dobras internas do intestino delgado, difíceis de alcançar sem cirurgia.

Um aspecto importante de Viagem fantástica que se manteve como fantasia é a noção de que essas pílulas pudessem manobrar sozinhas, nadando em direção a um tumor para fazer uma biópsia, verificando uma inflamação intestinal ou mesmo administrando tratamento para uma úlcera. Nos últimos anos, no entanto, os pesquisadores fizeram progressos no sentido de converter os elementos básicos de uma câmara encapsulada passiva em um robô ativo em miniatura. Protótipos avançados, hoje testados em animais, têm pernas, propulsores, lentes sofisticadas e sistemas de controle sem fio. Em breve, esses pequenos robôs poderão estar prontos para os testes clínicos. Neste momento, avaliam-se os limites da robótica miniaturizada.

O trato digestivo é a fronteira inicial. A primeira câmara em pílula sem fio, a M2A, lançada em 1999 pela companhia israelense Given Imaging, e modelos subsequentes demonstraram a utilidade do exame do sistema gastrointestinal com um aparelho sem fi o. Essa prática, conhecida como cápsula endoscópica, é agora de forma rotineira usada na medicina. Infelizmente, a falta de controle humano dessas câmaras leva a uma alta taxa de falsos negativos – elas não captam áreas problemáticas, o que é inaceitável para uma ferramenta de diagnóstico. Se o propósito de observar o interior do corpo é procurar doenças ou analisar mais de perto uma suspeita de problema, um médico quer acima de tudo parar a câmara e manobrá-la para inspecionar uma região que lhe interesse.

Transformar uma cápsula passiva em um aparelho mais confiável para um exame gastrointestinal requer a adição de apêndices móveis, ou atuadores, para impulsioná-la pelo corpo ou atuar como ferramentas para manipular os tecidos. A operação dessas partes móveis exige uma transmissão veloz e sem fi o de imagens e instruções. As pílulas devem se tornar pequenos robôs capazes de responder rapidamente às ordens do técnico. Todos esses componentes precisam de energia suficiente para completar suas tarefas durante uma jornada que pode levar até 12 horas. E tudo isso deve caber em um recipiente de 2 cm3 que um paciente possa engolir.

No mesmo ano em que a M2A estreou, o Intelligent Microsystem Center (IMC), em Seul, na Coreia do Sul, iniciou um projeto de dez anos para desenvolver uma nova geração de cápsulas endoscópicas com características avançadas. Essas pílulas robóticas teriam sensores integrados e uma fonte de luz para imagens, além de mecanismos para administrar medicamentos e fazer biópsias. E teriam a capacidade de se mover, sob o controle remoto de um endoscopista. Desde 2000, mais empresas e grupos de pesquisa entraram nesse campo. Por exemplo, 18 equipes européias formaram um consórcio com a IMC para desenvolver robôs capsulados para detecção e tratamento do câncer. Nosso grupo da Scuola Superiore Sant’Anna, em Pisa, na Itália, com a orientação e supervisão médica de Marc O. Schurr, da empresa Novineon, Tübingen, na Alemanha, ficou com a coordenação técnica e científica do projeto, chamado Vector, de uma cápsula endoscópica versátil para o reconhecimento e tratamento de tumores gastrointestinais.

Esses grupos acadêmicos e industriais trouxeram muitas idéias inovadoras. Propuseram várias soluções: como controlar o movimento de aparatos em cápsulas dentro do corpo. A maior parte deles usa uma entre duas abordagens fundamentais.

A primeira implica o direcionamento do movimento da pílula com atuadores integrados – partes móveis como pás, pernas, propulsores ou apêndices similares integrados ao seu revestimento e capazes de ser usados no interior do trato digestivo. Os atuadores, movidos por motores em miniatura, são normalmente utilizados para direcionar os movimentos da cápsula, mas em alguns desenhos pernas também podem mover o tecido ao redor da cápsula, para visualizar melhor alguma coisa ou ajudá-la a passar por uma região mais estreita do intestino. A maioria dos mecanismos motores e atuadores, como engrenagens, é muito grande se comparada ao volume total de uma cápsula, o que torna a incorporação de outras partes essenciais – o sensor de imagens ou um módulo terapêutico como uma ferramenta de biópsia – desafiadora. Além disso, para distender o tecido uma cápsula precisa exercer uma força significativa – equivalente a 10 ou 20 vezes o seu peso. O esforço requer um trabalho maior dos motores, o que consome muita energia aproximadamente meio watt). Essa drenagem pressiona a capacidade da bateria, e limita o tempo de operação desses aparelhos.

Para economizar a bateria, a melhor saída pode ser o uso dos atuadores apenas para propulsão e outras formas de afastar os tecidos. Fazer um paciente ingerir meio litro de líquido antes de engolir uma cápsula, por exemplo, deixaria o estômago distendido por até 20 minutos antes que o fluido descesse para o intestino delgado. Nesse tempo, a pílula poderia examinar a estrutura do órgão.

Apesar de o uso de ímãs na orientação de uma cápsula endoscópica ser simples, o controle preciso com eles é muito difícil. Os campos magnéticos perdem força com a distância e a geometria irregular do intestino. Mudanças bruscas na força do campo podem fazer a cápsula desorientar-se ou que se perca totalmente o controle sobre ela. Na prática, essa instabilidade pode fazer o operador perder contato irreversivelmente. É possível compensar com a adição de mais ímãs, que dariam maior controle e estabilidade, mas para isso seria necessária uma complexa configuração das bobinas magnéticas.

HÍBRIDOS SOB MEDIDA

À LUZ DAS LIMITAÇÕES DAS ABORDAGENS interna e externa do controle dos movimentos da cápsula, acreditamos ser necessária uma combinação desses dois métodos para encontrar uma solução confortável para o paciente que ofereça um diagnóstico confiável. A locomoção por meio do magnetismo é adequada para dar um direcionamento geral dentro do intestino; atuadores em formato de pernas são úteis para mudar de posição ou manobrar para obter uma visão melhor.
 
Nosso grupo de pesquisa desenhou uma dessas cápsulas híbridas com quatro pernas motorizadas e a testou em um porco, cujos intestinos têm as mesmas dimensões dos humanos. As pernas ficam fechadas enquanto a cápsula está sendo ingerida e durante a maior parte de seu trajeto pelo trato digestivo. Um gerador de campo magnético externo, próximo ao abdome, guia a cápsula adiante. Quando chega a um segmento mais estreito do intestino, ela afasta o tecido ao redor usando suas pernas, que a movem para a frente pela abertura criada.

Na maioria da área dos intestinos grosso e delgado, um sistema híbrido de delocamento daria aos médicos os controles de que eles necessitam para uma inspeção visual pormenorizada. Diferentes situações demandam soluções inovadoras. O projeto Vector, por exemplo, desenvolveu três conceitos de cápsulas apenas para o intestino delgado: a primeira é uma pílula com câmara passiva para a visualização normal; a segunda, uma cápsula diagnóstica com locomoção ativa e imagem espectroscópica que pode detectar anormalidades sob a superfície do tecido. O mesmo sensor espectroscópico é incorporado na terceira cápsula planejada pelo Vector, que traria também uma ferramenta de biópsia capaz de retirar uma amostra de tecido e guardá-la dentro da cápsula para ser retirada posteriormente.

A capacidade de fazer biópsias e outras ações terapêuticas mais complexas como procedimentos cirúrgicos tornaria os robôs endoscópicos ferramentas médicas ainda mais poderosas. Mas problemas críticos como o suprimento de energia, restrições de espaço e limite de força tornam ações terapêuticas mais ambiciosas que requeiram movimentos complexos e atuadores múltiplos impossíveis de conseguir com uma única pílula de 2 cm3.

Por essas razões, estamos trabalhando em um conceito avançado: robôs-cirurgiões que se configuram dentro do corpo. Deve funcionar assim: o paciente beberia um fluido para distender seu estômago e engoliria de 10 a 15 pílulas. Cada uma seria um componente miniaturizado com ímãs nas extremidades. Uma vez dentro do estômago, os pedaços se montariam rapidamente na configuração desejada e o cirurgião usaria o robô recém-armado como uma ferramenta remotamente controlada que possa operar sem a necessidade de fazer uma única incisão do lado de fora do corpo.

Componentes robóticos miniaturizados podem eventualmente ser usados por todo o corpo para vários propósitos. Sistemas de orientação e sensores de câmaras desenvolvidos para as cápsulas endoscópicas já estão influenciando as tecnologias biomédicas relacionadas, como as versões mais novas das ferramentas tradicionais para endoscopias e laparoscopias. Além do uso medicinal, essas tecnologias são parte de uma ampla tendência de robótica miniaturizada e remotamente controlada. Robôs em cápsulas sem dúvida terão influência nas máquinas robotizadas no mundo lá fora.

Aspirina diária reduz risco de morte por câncer, diz estudo

Segundo pesquisa, consumo de 75 mg diários da droga reduziu em até 20% os riscos de morte.

 Uma pequena dose diária de aspirina é capaz de reduzir substancialmente o risco de morte por uma série de tipos de câncer, segundo sugere um estudo britânico.

A pesquisa coordenada pela Universidade de Oxford verificou que uma dose diária de 75 mg reduziu em até 20% a chance de morte por câncer.

O estudo, publicado na última edição da revista científica "The Lancet", analisou dados de cerca de 25 mil pacientes, a maioria deles da Grã-Bretanha.

Especialistas dizem que os resultados mostram que os benefícios da aspirina comumente compensam os riscos associados, como aumento da possibilidade de sangramentos ou irritação do sistema digestivo.

Outros estudos já haviam associado a aspirina à redução dos riscos de ataques cardíacos ou de derrames entre as pessoas nos grupos de risco.

Mas acredita-se que os efeitos de proteção contra doenças cardiovasculares sejam pequenos entre adultos saudáveis. Também há um risco maior de sangramentos no estômago e no intestino.

Porém a pesquisa publicada nesta terça-feira afirma que, ao avaliar os benefícios e os riscos do consumo de aspirina, os médicos deveriam também considerar seus efeitos de proteção contra o câncer.

As pessoas que consumiram o medicamento tiveram um risco 25% menor de morte por câncer durante o período do estudo, e uma redução de 10% no risco de morte por qualquer causa em comparação às pessoas que não consumiram aspirina.

Longo prazo
O tratamento com a aspirina durou entre quatro e oito anos, mas um acompanhamento de mais longo prazo de 12.500 pessoas mostrou que os efeitos de proteção continuaram por 20 anos tanto entre os homens quanto entre as mulheres.

Após 20 anos, o consumo diário de aspirina ainda tinha o efeito de reduzir em 20% o risco de morte por câncer.

Ao analisar os tipos específicos da doença, os pesquisadores verificaram uma redução de 40% no risco de morte por câncer de intestino, 30% para câncer de pulmão, 10% para câncer de próstata e 60% para câncer de esôfago.

As reduções sobre cânceres de pâncreas, estômago e cérebro foram difíceis de quantificar por causa do pequeno número de mortes por essas doenças entre as pessoas pesquisadas.

Também não havia dados suficientes para analisar os efeitos da aspirina sobre cânceres de ovário ou de mama, mas os autores da pesquisa sugerem que a razão para isso é que não haveria mulheres suficientes entre as pessoas analisadas.

Mas estudos de larga escala sobre os efeitos da aspirina sobre esses tipos específicos de câncer estão em andamento.

O coordenador do estudo, Peter Rothwell, disse que ainda não aconselha os adultos saudáveis a começarem a tomar aspirina imediatamente, mas afirmou que as evidências científicas estão 'levando as coisas nessa direção'.

Segundo Rothwell, o consumo diário de aspirina dobra os riscos de grandes sangramentos internos, que é de 0,1% anualmente. Mas ele diz que os riscos de sangramento são 'muito baixos' entre adultos de meia idade, mas aumentam bastante entre os maiores de 75 anos.

Segundo ele, o tempo ideal para começar a considerar tomar doses diárias de aspirina seria entre os 45 e os 50 anos, por um período de 25 anos

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

AIDS: O que aprendemos com ela?

A síndrome da imunodeficiência adquirida (aids) entrou para a história provocando efeitos colaterais na ciência. Diante de um problema desconhecido e altamente letal, investimentos astronômicos foram canalizados para os centros de pesquisa. Um vírus, o da imunodeficiência humana (HIV), movimentou uma caça às bruxas e, quando descoberto, tornou-se inimigo público número 1. O clima era o de ameaça à espécie humana, mas estávamos prestes a entender, com detalhes, alguns dos mecanismos que explicam a vida. Os resultados dos estudos focados na nova epidemia transbordaram, isto é, não ficaram restritos à aids. “A doença acelerou o progresso científico”, observa o infectologista Stefan Cunha Ujvari, autor de A História da Humanidade Contada pelos Vírus (Ed. Contexto).







Em meio a essa corrida, que invadiu o século 21, aprendemos como é organizado nosso sistema imunológico e desvendamos a natureza e as estratégias de ataque dos vírus. “A virologia se divide em antes e depois do HIV”, sentencia o infectologista Caio Rosenthal, do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo. Avançamos na compreensão do genoma. “Com os estudos em HIV, passamos a identificar perfis genéticos que acusam se uma pessoa terá uma progressão mais lenta ou rápida da doença”, conta a farmacêutica Rejane Grotto, da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu. O boom de informações geradas em laboratório extrapolou os ganhos contra a aids e aprimorou a abordagem das hepatites virais e do câncer.



“Não tenho dúvida de que o conhecimento gerado em função do HIV ainda não foi totalmente empregado em outras doenças”, diz o infectologista Celso Granato, do Laboratório Fleury. Na esteira do progresso, porém, exames se aperfeiçoaram e novas drogas surgiram. A ordem de conter o vírus resultou em mais segurança nos procedimentos médicos, como a triagem do sangue para doação e o uso de agulhas descartáveis. São mudanças que mal notamos no cotidiano, mas que afetam, e muito, a nossa vida.



Apesar de iluminar indiretamente os pilares da biologia moderna, a aids deixou lições amargas, porque quebrou modelos estabelecidos. “As epidemias costumam surgir e depois de um tempo desaparecer, mas a aids não foi embora”, avalia a professora de história da medicina Diana Maul de Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.



Além disso, a doença silenciou a esperança — ou, por que não, a presunção — da ciência de impor seu domínio absoluto sobre os micróbios. “O século 20, marcado pelo desenvolvimento de vacinas e antibióticos, imaginou controlar de vez as doenças infecciosas, e o HIV mostrou que isso ainda é impossível”, lembra Diana.



Um vírus mudou os hábitos do homem. Os anos 1960 e 70 hastearam a bandeira da liberdade sexual, mas a década seguinte veio recolhê-la. Com a chegada da aids — e as notícias se espalhando —, o sexo voltou a ser visto como fonte de perigo. Houve quem atribuísse a nova peste a um castigo divino contra a imoralidade e a perversão dos jovens. O mal se alastrou e, com o tempo, o mundo percebeu que ele não tinha idade nem era exclusivo de homossexuais, profissionais do sexo e usuários de drogas. “A doença avançou para a população heterossexual e, de repente, havia grávidas e crianças infectadas”, conta Stefan Ujvari, que também é médico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. E, aí, fomos obrigados a aceitar o fato de que qualquer ser humano é vulnerável. A imagem do soropositivo se transformou a passos lentos — embora muita gente ignore, portar o vírus não signifi- ca ser aidético, estágio só enfrentado se a síndrome se manifesta. À medida que artistas assumiam sua condição, a aids se tornava pública e suas vítimas passavam a ser mais aceitas pela sociedade. O mundo mudou também para quem não abrigava o vírus nas veias. Inaugurou- se a era do sexo seguro e o preservativo entrou na moda por obrigação. “Os cuidados motivados pela aids reduziram a transmissão de outros problemas”, afirma Celso Granato.

O HIV forçou um debate sobre comportamento sexual cujos ecos ainda são ouvidos. Afinal, o que se entende por promiscuidade? O que é ter uma relação de risco, como questiona o formulário para a doação de sangue? Por que homossexuais não estão no grupo apto a doar? Ora, mesmo heterossexuais com um único parceiro não estão livres da ameaça. A discussão não terminou, mas é inegável: a doença abriu nossa cabeça. “A partir da epidemia, se acendeu um debate sobre sexualidade, preconceito e prevenção”, diz o infectologista Dirceu Greco, diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. A questão das drogas também veio à tona. E o discurso trocou de tom e foco: não se cobra mais a abolição dos entorpecentes, mas, se alguém fizer uso dos injetáveis, que não compartilhe a seringa. No final das contas, a aids flechou o próprio moralismo.



A queda do estigma

Nos primeiros anos, o diagnóstico do HIV era uma sentença de morte. “Já fui o médico que mais assinou atestados de óbito em São Paulo”, relembra Caio Rosenthal, que acompanhou as vítimas da doença desde o princípio da epidemia. Mas, anos de pesquisas depois, a ciência entrou em campo com o coquetel. Graças a ele, o soropositivo não veste mais o traje de carne e osso e, quando segue o tratamento à risca, pode levar uma vida próxima do normal. “O problema é que, se o paciente não adere a no mínimo 95% da terapia, sua resposta tende a cair”, diz Rosenthal. Nesse caso, em geral protagonizado por pessoas financeiramente desfavorecidas, a aids prossegue como um fantasma.



É um engano rotular a aids como uma doença sob controle — erro compartilhado por uma nova geração que, embora tenha crescido nos tempos da camisinha, nutre a sensação de que o HIV é uma peste enterrada no século 20. “Ele não é um problema do passado, mas do futuro”, não hesita em dizer o virologista Paolo Zanotto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Essa falha de percepção está por trás do recrudescimento da infecção entre os jovens, que não podem se dar ao luxo de pensar que o tratamento contém em definitivo o micro-organismo. “As terapias nem sempre têm o efeito esperado e, com o tempo, o vírus é capaz de apresentar resistência a elas”, lembra Zanotto.



O perigo ronda também quem atravessa a sexta ou a sétima década de vida. A popularização dos remédios contra a disfunção erétil se somou à falta do hábito de vestir o preservativo. O resultado são novos casos em uma faixa etária que, a princípio, enfrentava um menor risco. Ninguém está imune e, por isso, só há um caminho seguro para escapar do vírus. “A prevenção é o carro-chefe”, afirma Dirceu Greco. Mesmo quem porta o HIV precisa se precaver, sob pena de contrair outros subtipos do micro-organismo. “A recombinação dos vírus pode diminuir a eficácia das drogas”, alerta Zanotto. Além do sexo seguro, especialistas defendem mais uma medida para cercar o inimigo: a inclusão de exames de HIV nos checkups anuais. O diagnóstico precoce faz a diferença não apenas ao paciente. O mundo inteiro sai ganhando.



Depois desse balanço histórico, com as perdas e os ganhos impostos pela aids, chega o momento de vasculhar por que não derrotamos o adversário microscópico. Mal o vírus se alastrava nos anos 1980, cientistas ousaram prever uma vacina em pouco tempo. A predição não se tornou realidade. “Pensava-se, na época, que bastava descobrir o vírus para desenvolver um imunizante”, diz o infectologista Esper Kallas, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.



Na década seguinte, Bill Clinton, então presidente dos Estados Unidos, anunciou o produto no prazo de dez anos. A profecia não se cumpriu mais uma vez. “O HIV tem um jogo negociado com o sistema imune e qualquer vacina precisa das nossas defesas para funcionar”, explica Paolo Zanotto. O micro-organismo parece projetado para enganar o hospedeiro. Primeiro: ele é altamente mutante e, assim, dribla anticorpos — um imunizante tradicional feito hoje não funcionaria amanhã. Segundo: ele conta com substâncias em sua superfície que dificultam a adesão de um anticorpo. Terceiro: ele invade o núcleo de uma célula essencial ao comando imunológico, misturando seus genes aos dela e escapando dos guardas. Essas peculiaridades ajudam a entender também a dificuldade de encontrar a cura da doença, um Santo Graal nas ciências biológicas. O coquetel antirretroviral zera a carga de vírus no sangue, mas alguns deles se escondem nos chamados santuários — que ficam no cérebro, nos gânglios linfáticos... “O HIV se finge de morto e, se a terapia é abandonada, volta a se multiplicar e atacar em 15 dias”, avisa Celso Granato, que também é professor da Universidade Federal de São Paulo.



Enquanto torcemos por uma vacina perfeita e um remédio capaz de desentocar e matar as sobras do vírus, deparamos com a última e difícil lição. “Parece que, até agora, o homem está apertando sempre a campainha e a porta não abre. Talvez ele tenha que dar um passo para trás e pensar em outro jeito de entrar na casa”, compara Zanotto. “Apesar de tudo o que descobrimos, ainda estamos amarrados pela falta de conhecimento”, constata Granato. Para vencer o HIV, precisamos rever a própria forma de fazer ciência e transgredir nossas limitações. Ainda temos muito que aprender antes de derrotar essa doença, que se desprendeu de tintas apocalípticas e ensinou o ser humano a compreender melhor os fenômenos que regem a vida. Não foi o fim do mundo. Não foi o fim da vida. Não é o fim do sonho.



O coquetel



Uma combinação de medicamentos modificou a expectativa e a qualidade de vida do soropositivo. O coquetel antirretroviral é composto de três a cinco drogas e receitado até mesmo antes de a síndrome se manifestar. Ele transformou um mal fulminante em uma doença crônica. Seus remédios atuam em várias fases do mecanismo de ataque do vírus. Se o primeiro falhar, as outras drogas entram em ação, reduzindo a carga viral no sangue a um nível indetectável — o único senão são os efeitos adversos.



Num futuro distante



“É possível que, daqui a milhões de anos, o HIV se integre de vez no DNA do homem”, especula Paolo Zanotto. A ligação não se completou até hoje porque ele arruína nosso corpo. Está comprovado que herdamos genes de outros retrovírus. Há milhares de anos, esses micro-organismos aniquilaram animais. Feita a aliança com o hospedeiro, seus genes passaram a trabalhar pela formação da placenta. Será que o HIV também trará alguma recompensa à nossa espécie?



A Aids e o tempo



Acompanhe a história da doença nestas e nas próximas páginas e conheça suas repercussões na ciência, na sociedade e na vida dos soropositivos



1930
O vírus da imunodeficiência do símio, SIV, que infectava chimpanzés da espécie Pan troglodytes troglodytes, em Camarões e Gabão, é transmitido ao ser humano e, aos poucos, dá origem a um novo micro-organismo, o HIV.



1959
Data deste ano um dos primeiros casos de morte pelo vírus — um habitante do Congo cujo sangue foi coletado por cientistas americanos. Mas a confirmação só veio por meio de análises na década de 1980.



1977/78
O vírus viaja de navio e avião rumo ao Haiti dentro de pessoas infectadas. Uma vez na ilha, atinge especialmente a população carente. Desconfia-se que imigrantes possam ter carregado o micro-organismo aos Estados Unidos.



1981
Multiplicam-se casos de um câncer raro, o sarcoma de Kaposi, e de infecções oportunistas que levam à morte mais de 150 pessoas nos Estados Unidos, a maioria homossexuais. Os médicos acreditam em uma nova doença.



1982
Autoridades americanas passam a chamá-la de síndrome da imunodeficiência adquirida, a aids, e estipulam as pessoas mais vulneráveis a ela: homossexuais, profissionais do sexo, usuários de drogas e hemofílicos.



1983
Um ano depois do primeiro caso diagnosticado no Brasil (em São Paulo), os cientistas franceses Luc Montagnier e Françoise Barré-Sinoussi, do Instituto Pasteur, identificam o vírus da imunodeficiência humana, o HIV.



1984
Montagnier havia doado uma amostra do vírus ao pesquisador americano Robert Gallo e, meses depois, o governo ianque anuncia que ele é o pai da descoberta da causa da aids. Nasce uma contenda histórica.



1986
Um ano depois do surgimento do exame para a doença, desponta o primeiro tratamento. É o AZT, antes usado contra o câncer, mas preterido devido aos efeitos colaterais. Ele bloqueia um dos mecanismos de infecção do vírus.



1990
O Brasil perde uma das mais famosas vítimas da aids, o cantor e compositor Cazuza. No ano seguinte, a fita vermelha entrelaçada e formando um “A” se torna o símbolo de combate à doença.



1992
À medida que surgem novas drogas contra o vírus, o Ministério da Saúde brasileiro anuncia que o tratamento da aids será custeado pelo Sistema Único de Saúde, tornando-se, portanto, gratuito ao paciente.



1993
O AZT, droga antiviral, começa a ser produzido no Brasil. Um ano mais tarde, pesquisas sugerem que o medicamento reduz a transmissão do HIV da mãe para o filho na gravidez e na hora do parto.



1995
Vem ao mundo uma nova classe de antivirais, que torna mais eficaz o tratamento. São os inibidores de protease, que agem em um dos últimos passos do vírus para garantir seu domínio sobre a célula infectada.



1996
Os soropositivos já dispõem de um mix de drogas para controlar a doença. O programa brasileiro de DST e Aids define o primeiro consenso para o coquetel antirretroviral, estabelecendo a indicação de cada remédio.



2008
Os cientistas Luc Montagnier e Françoise Barré-Sinoussi são laureados com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina pela identificação do HIV. Se ainda havia alguma dúvida quanto à autoria da descoberta, ela cai por terra finalmente.



2009
Em meio à busca de novas drogas e de uma vacina, a estimativa é que existam mais de 33 milhões de pessoas infectadas pelo vírus. Foram registrados no Brasil, desde o começo da epidemia, quase 545 mil casos da doença.



A origem

O berço da humanidade foi também o cenário onde surgiu o HIV. Estamos falando da África, mais especificamente da região que abrange o sul de Camarões e o norte do Gabão. Ali vivia uma espécie de chimpanzé que portava o vírus da imunodeficiência do símio (SIV), o ancestral da versão humana. Na década de 1930, a escassez de alimentos decorrente de um período de conflitos e miséria motivou ainda mais a caça aos macacos. Por meio de ferimentos, os caçadores se infectaram. Só que o vírus, mutante e esperto, conseguiu se ambientar ao corpo do hospedeiro, gerando o HIV.



As cifras da doença



Gastos voltados à luta contra o HIV nos últimos anos:



15,6 bilhões em 2008



25 bilhões em 2010



60 milhões de pessoas se infectaram com o HIV desde o início da epidemia. É quase a população do Reino Unido



25 milhões morreram vítimas da aids até hoje. Esse número supera a população da Grande São Paulo



2,1 milhões de crianças vivem com o vírus no mundo inteiro. Mais de 14 milhões ficaram órfãos no continente africano



As frentes de combate



Conheça as estratégias investigadas pela ciência que prometem prevenir ou aprimorar o tratamento do HIV



Vacinas



Existem atualmente cerca de 30 versões em teste. Elas são divididas em dois grupos. “O primeiro induz a formação de anticorpos contra o vírus, prevenindo a infecção”, diz o infectologista Esper Kallas. “E o segundo educa as células de defesa a combatê-lo, impedindo que se desenvolva a síndrome”, resume. Para o médico, a saída pode estar em uma combinação de ambas as táticas.



Novas drogas



Estão em testes novas famílias de antivirais, que atuam em etapas inusitadas do mecanismo de infecção. Uma aposta para o futuro seriam terapias que atuassem em nosso código genético. “Há moléculas de RNA antes consideradas desprezíveis e que hoje são não apenas importantes, como possíveis candidatas a destruir as informações do vírus”, diz Paolo Zanotto. É preciso desvendar uma maneira de usá-las a nosso favor.



Gel anti-hiv



O produto, aplicado diretamente na vagina, barraria a transmissão do HIV in loco. Várias fórmulas foram avaliadas mundo afora sem sucesso. Recentemente, um gel testado na África do Sul surpreendeu ao mostrar uma redução de 39% no contágio. “Mas essa solução ainda parece mais adequada a mulheres expostas ao vírus e que não têm a opção do preservativo”, acredita Esper Kallas.



Nós aprendemos com a aids



A caça ao vírus e a busca de exames e tratamentos impulsionaram o conhecimento em diversas áreas da ciência



Sistema imune



Conhecemos com intimidade o papel do linfócito T CD4, justamente a célula de defesa infectada pelo HIV. Ela exerce a função de um comandante, que recruta, por meio de substâncias mensageiras, os soldados para o conflito. Também se comprova que o timo, órgão situado no meio do peito, continua ativo na fase adulta, diferentemente do que se pensava antes da epidemia. É ali, aliás, que parte das células de defesa amadurece para ir à luta.



Genética



São estudados os chamados polimorfismos, sequências de genes que diferem de pessoa para pessoa e que podem revelar uma maior propensão a certas doenças. No caso do HIV, eles são capazes de dedurar se a progressão da síndrome será rápida ou mais lenta. A análise do genoma dos retrovírus e do seu mecanismo de ataque ajuda a comprovar a tese de que, no fluxo de informações genéticas, a molécula de RNA pode se transformar em DNA, e não apenas o caminho contrário.



Virologia



O HIV alavancou esse ramo da biologia. Graças às observações e aos experimentos com ele, conseguimos decifrar as minúcias do ciclo de vida dos vírus. Passamos a visualizar como esses micro-organismos dominam a célula-alvo do hospedeiro e misturam seu material genético ao dela para se replicar. Distinguimos uma série de enzimas, cruciais ao assalto do vírus, que, quando anuladas, inviabilizam sua vitória contra a célula. E, aí, aparecem novas drogas antivirais

De cara com o vírus



 O que ele tem de especial?



O HIV, vírus da imunodeficiência humana, é um retrovírus extremamente mutante. Seu código genético tem duas fitas de RNA.



 Como é transmitido?

Por meio do sangue (transfusões e outros procedimentos médicos), do ato sexual e do contato com ferimentos.



 Como ataca o homem?



Ele invade o linfócito T CD4, importante célula de defesa, e integra seu material genético no do hospedeiro para se multiplicar. Com milhões de novas cópias formadas, a célula é destruída.



 Quais os tipos?



São basicamente dois, o HIV-1, comum em todo o mundo e dividido em subtipos de A a J, e o HIV-2, mais restrito à África.



Exames

Um teste conhecido como PCR passa a ser empregado para rastrear o HIV no sangue. Os métodos de diagnóstico evoluem e se tornam mais sensíveis. Além de apurar as pegadas do micro-organismo, há exames que fazem uma contagem dos linfócitos T CD4, células agredidas pelo vírus e que indicam a exposição do paciente às doenças oportunistas que surgem durante a síndrome. Outros conseguem investigar se existe resistência do micro-organismo aos medicamentos prescritos.



Procedimentos médicos



Como é transmitido pelo sangue, o HIV exigiu a adoção de critérios mais rígidos na hora de realizar uma série de procedimentos em clínicas e hospitais. Intensifica-se a necessidade de executar triagens do sangue doado antes de submeter um paciente a uma transfusão — muitos hemofílicos contraíram a doença na ausência desse cuidado. E ganha força a obrigação de usar agulhas descartáveis em vacinas e injeções.



Outras doenças

Os avanços em imunologia e no entendimento do mecanismo das infecções foram caros à compreensão e ao tratamento de outros males, como o câncer e as hepatites virais. A proposta de combinar drogas, lançada pelo coquetel anti-HIV, inspirou a terapia dessas outras enfermidades anos depois. Já o conhecimento do ciclo de vida dos vírus ajudou a melhorar a terapia da hepatite C. E o rigor com a transfusão de sangue minimizou a transmissão de problemas como a doença de Chagas.