segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Mundo tem maiores concentrações de gases estufa em 800 mil anos



A temperatura média na superfície da Terra e dos oceanos aumentou 0,85ºC entre 1880 e 2012, um aquecimento de velocidade inédita, destacou o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU (Organização das Nações Unidas).
No Painel, os cientistas destacam que o mundo tem pouco tempo para conseguir manter o aumento global da temperatura abaixo do limite de 2ºC, meta da comunidade internacional.
Sinais do aquecimento do planeta
  • Aumento das temperaturas
    Média global na Terra e nos oceanos subiu 0,85°C entre 1880 e 2012
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  • Mais precipitações
    Chuvas aumentaram desde 1901 nas latitudes médias do hemisfério norte
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  • Mar mais ácido
    O pH médio nos oceanos caiu 0,1 ponto, um aumento da acidez de 26%
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  • Degelo do ártico
    Camada de gelo diminuiu de 3,5 a 4,1% por década entre 1979 e 2012
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  • Gelo na Antártida
    Camadas aumentaram de 1,2 a 1,8% por década entre 1979 e 2012
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  • Elevação do nível dos mares
    Entre 1901 e 2010, o nível médio dos oceanos aumentou 19 cm
As emissões mundiais de gases que provocam o efeito estufa devem parar de crescer em cinco anos e ser reduzidas a 70% até 2050. Elas precisariam desaparecer até 2100. 
Para não estourar o limite de 2°C de aquecimento, as emissões históricas de carbono devem ficar em menos de 2,9 trilhões de toneladas de gás carbônico. O planeta já emitiu 1,9 trilhão de toneladas. Segundo o relatório apresentado em Copenhague, as energias fósseis representaram 78% das emissões entre 1970 e 2010. 
Do total dos gases estufa emitodos, 40% permaneram na atmosfera e o restante ficou armazenado na biomassa do oceano. Por ter absorvido 30% das emissões de CO2, as águas dos mares sofreram acidificação.

A temperatura média na superfície da Terra e dos oceanos subiu 0,85°C entre 1880 e 2012. As três últimas décadas foram sucessivamente as mais quentes desde 1850. Na superfície dos oceanos, a temperatura aumentou 0,11ºC por década entre 1971 e 2010.

O relatório, o mais completo desde 2007, é o último documento do painel a ser publicado antes da 20ª cúpula do clima, que será realizada em dezembro em Lima, no Peru. No encontro são negociados acordos globais de redução de emissão de gases estufa.

Impactos visíveis

Segundo os cientistas, os impactos da emissão de gases estufa são visíveis em todos os continentes e todos os oceanos. Os sistemas hidrológicos, por exemplos, foram alterados pela modificação do regime de precipitações.
O calor verificado nos últimos anos também é sinal do problema. A frequência das ondas de calor aumentou em partes da Europa, Ásia e Austrália. Há regiões em que a probabilidade de ondas de calor dobrou. Hoje, locais onde as precipitações aumentaram são mais numerosas do que aquelas que registraram queda.

O derretimento dos gelos, afetando a disponibilidade e a qualidade da água, é outro impacto verificável em diversas regiões do planeta. Houve também influência na fauna e na flora, com modificações nas migrações de aves e na quantidade de indivíduos de numerosas espécies animais e vegetais, marinhas e terrestres.
*Com agências de notícias. 
Impactos naturais e socioeconômicos da mudança climática
  • GRAVIDADE
    O ritmo anual das emissões de gases estufa terá impactos "graves, extensos e irreversíveis"
  • CLIMA
    As ondas de calor serão mais frequentes e as ondas de frio menos frequentes na maior parte do planeta
  • CHUVAS
    Precipitações aumentarão no Pacífico equatorial, nas latitudes elevadas e nas regiões úmidas das latitudes médias, e diminuirão nas regiões subtropicais secas
  • ÁRTICO
    A região do Ártico continuará com um aquecimento mais rápido que a média do planeta. A camada de gelo será menos extensa em todos os períodos do ano
  • GELEIRAS
    O volume global das geleiras, com exceção da Antártica, deve cair entre 15 e 55% com o cenário menos intenso da emissões, e de 35 a 85% com a trajetória mais elevada
  • MARES
    O aumento do nível do mar vai prosseguir a um ritmo mais acelerado que entre 1971 e 2010. Pode alcançar entre 26 cm e 82 cm, em função das emissões entre 1986-2005 e do fim do século XXI. A alta não será uniforme em todo o planeta. O oceano vai continuar com temperatura em alta e com o processo de acidificação
  • CORAIS
    Os sistemas de corais serão mais vulneráveis. Ecossistemas marinhos estarão expostos a níveis de oxigênio menos elevados e a um meio mais ácido
  • FAUNA E FLORA
    Aumentará o risco de extinção de espécies, animais e vegetais, sem capacidade de adaptação
  • ALIMENTOS
    A segurança alimentar será afetada especialmente nas regiões que dependem da pesca. Haverá queda nos rendimentos dos cereais (trigo, arroz, milho) nas regiões temperadas e tropicais
  • ÁGUA
    Haverá redução dos recursos de água potável nas regiões subtropicais secas
  • INUNDAÇÕES
    Aumentarão os riscos de inundações, deslizamentos de terra, elevação dos oceanos e tempestades
  • MIGRAÇÃO
    Crescerá o número de deslocamentos da população
  • CONFLITOS
    Aumentam os riscos conflitos pelo acesso aos recursos

Fonte: www.uol.com.br

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA NO EXERCÍCIO - AULA

FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO - INTRODUÇÃO

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Conheça soluções para a crise da água em seis cidades do mundo

Para enfrentar a escassez de água, a companhia de água de Pequim aposta em projeto multibilionário de transposição de água de rios do sul para o norte do país, que é mais árido
  • Para enfrentar a escassez de água, a companhia de água de Pequim aposta em projeto multibilionário de transposição de água de rios do sul para o norte do país, que é mais árido
A crise da água no Sudeste brasileiro, que afeta milhões de pessoas, desperta discussões sobre mudanças climáticas, consumo, investimentos e alternativas de abastecimento.

Diversas cidades do mundo também enfrentam ou enfrentaram desafios semelhantes, envolvendo seca, desperdício e excesso de consumo. A experiência delas pode servir de lição para São Paulo e as demais cidades brasileiras que sofrem com a falta d'água?

A BBC Brasil identificou seis cidades que tentam solucionar suas crises de abastecimento e perguntou ao Instituto Socioambiental (ISA) até que ponto as medidas se aplicariam à realidade paulista:
Pequim: transposição de água
A China está entre os 13 países listados pela ONU com grave falta d'água: com 21% da população mundial, o país tem apenas 6% da água potável do planeta.

Cerca de 400 cidades do país enfrentam obstáculos de abastecimento, e Pequim é uma delas: com uma população crescente, a capital já consome mais água do que tem disponível em seus reservatórios.

Além disso, diversos rios chineses secaram recentemente em decorrência de secas prolongadas, crescimento populacional, poluição e expansão industrial.

Para enfrentar a questão, a companhia de água de Pequim está apostando em um projeto multibilionário para redirecionar rios, o Projeto de Desvio de Água Sul-Norte, cuja primeira etapa deve ser concluída neste ano.

O objetivo é mover bilhões de metros cúbicos de água do sul ao norte (mais árido) anualmente ao longo de uma distância superior à que separa o Oiapoque do Chuí (extremos do Brasil), a um custo que deve superar os US$ 60 bilhões. Seria necessária a construção de 2,5 mil km de canais.

É viável em SP? O governador paulista, Geraldo Alckmin, propôs uma obra de transposição para interligar o Sistema Cantareira à bacia do rio Paraíba do Sul - proposta polêmica, já que este último é a principal fonte de abastecimento do Estado do Rio de Janeiro, mas vista como "viável" pela Agência Nacional de Águas (ANA). O custo estimado é de R$ 500 milhões.

No entanto, para Marussia Whately, consultora em recurso hídricos do ISA (Instituto Socioambiental), São Paulo estaria avançando sobre outras fontes de água sem cuidar da água que tem disponível atualmente.

"Vamos investir em grandes obras antes de pensar na gestão das perdas de água, no consumo e na degradação das fontes de água atuais?", questiona.
Perth (Austrália): dessalinização
Perth é a "cidade mais seca" entre as metrópoles da Austrália. Segundo a presidente da Western Australia Water Corporation, Sue Murphy, as mudanças climáticas ocorreram mais rápido e antes do que era esperado no oeste do país. "Nos últimos 15 anos, a água de nossos reservatórios foi reduzida para um sexto do que havia antes", disse à BBC em junho.

A cidade construiu duas grandes estações para remover o sal da água coletada no Oceano Índico e torná-la potável.

Hoje, Perth obtém metade de sua água potável a partir do mar. Mas os ambientalistas criticam o processo por ser caro e demandar muita energia. Os moradores sentiram o impacto em suas contas de água, que dobraram de valor nos últimos anos.

A cidade também está fazendo experimentos com o sistema Gnangara, sua maior fonte hídrica subterrânea. Por uma década, Perth injetou nos aquíferos subterrâneos a água que foi usada pela população, já tratada. A água é filtrada naturalmente pelo solo arenoso e depois extraída para ser consumida pela população ou usada na irrigação agrícola. O teste foi considerado bem-sucedido, e um programa oficial foi estabelecido – sua meta é obter desta forma 7 bilhões de litros por ano.

"Com um clima mais seco, precisamos ser menos dependentes de chuva, por isso apoiamos estes projetos", disse Mia Davies, ministra de Água e Florestas do Leste da Austrália. Ao mesmo tempo, houve uma campanha pelo uso racional da água, o que fez com que a demanda por água hoje seja 8% menor do que em 2003, apesar de a população ter crescido mais de 30%.

É viável em SP? A dessalinização não seria uma opção coerente, diz Whately, do ISA, já que São Paulo não é cidade costeira e o Brasil tem um enorme patrimônio de água doce. Ao mesmo tempo, já se fala em recorrer ao uso emergencial de água usada: o governo paulista anunciou nesta semana planos de construir uma Estação de Produção de Água de Reúso na zona sul de São Paulo.

Nova York: proteção de mananciais

Uma das maiores cidades do mundo, Nova York iniciou nos anos 1990 um amplo programa de proteção aos mananciais de água, para prevenir a poluição nessas nascentes e, assim, evitar gastos volumosos com tratamento ou busca de novas fontes de abastecimento.

O projeto incluiu aquisição de terras pelo governo nas nascentes de água, com o objetivo de proteger sua vegetação e garantir que os lençóis freáticos continuassem a ser alimentados; assistência financeira a comunidades rurais nessa região em troca de cuidados com o meio ambiente; e mitigação da poluição nos mananciais. Com isso, a cidade conseguiu ampliar em décadas a vida útil de seus mananciais.

O programa também envolveu campanhas pela redução do consumo. Dados oficiais apontam que o consumo per capita da cidade era de 204,1 galões de água por dia em 1991 e caiu para 125,8 galões/dia em 2009.

É viável em SP? Para Whately, trata-se da opção mais adequada para a realidade paulista: "A ideia (em Nova York) foi pensar o recurso que eles tinham disponíveis e cuidar deles, em vez de investir em obras", diz.
Zaragoza (Espanha): conscientização e metas
Secas severas nos anos 1990 deixaram milhões de espanhóis temporariamente sem água. Mas um relatório da Comissão Europeia aponta que o maior problema no país não costuma ser a falta de chuvas, e sim "uma cultura de desperdício de água".

A cidade de Zaragoza, no norte, encarou o problema com uma ampla campanha de conscientização em escolas, espaços públicos e imprensa pelo uso eficiente da água e o estabelecimento de metas de redução de consumo. Dos cerca de 700 mil habitantes, 30 mil se comprometeram formalmente a gastar menos água.

A estratégia incluiu incentivos para a compra de aparelhos domésticos econômicos (chuveiros, vasos sanitários, torneiras e máquinas de lavar louça eficientes, cujas vendas aumentaram em 15%); melhoria no uso da água em edifícios e espaços públicos, como parques e jardins; e cuidados para evitar vazamentos no sistema.

A meta estabelecida em 1997, de cortar o consumo doméstico de água em mais de 1 bilhão de litros água em um ano, foi atingida. Antes da campanha, diz a Comissão Europeia, apenas um terço das casas de Zaragoza praticava medidas de economia de água; ao final da campanha, eram dois terços. O consumo total caiu mesmo com o aumento no número de habitantes.

"O projeto mostrou que é possível lidar com a falta d'água em um ambiente urbano usando uma abordagem economicamente eficiente, rápida e ecológica", diz o 2030 Water Resources Group, consórcio que reúne ONGs, governos, ONU e empresas em busca de soluções ao uso da água no mundo.
É viável em SP? Não apenas viável como necessário, diz Whaterly, do ISA. "Se houvesse, por exemplo, um amplo programa de incentivos à aquisição de hidrômetros individuais (em vez de coletivos) nos edifícios de São Paulo, haveria uma economia brutal de água", opina. "Também são necessários incentivos à construção de cisternas e sistemas individuais de reúso da água."

Whately opina também que, ante a urgência da situação, a cidade precisa fixar metas e incentivos à redução do consumo mais duras do que as promovidas atualmente pela Sabesp - por exemplo, forçando consumidores maiores a cortar mais seu gasto de água e debatendo a imposição de multas a quem aumentou o consumo em plena estiagem.

Cidade do México: novos aquíferos

Em junho, o presidente mexicano Enrique Peña Nieto afirmou que 35 milhões de habitantes do país têm pouca disponibilidade de água, tanto em qualidade como em quantidade.

Essa escassez é grave na própria capital, a Cidade do México, onde uma combinação de fatores – como grande concentração populacional, esgotamento de rios e tratamento insuficiente da água devolvida ao solo – causa extrema preocupação.

Em 2009, partes da cidade foram submetidas a racionamento de água após uma forte seca; e autoridades ouvidas pela imprensa local afirmam que, no ritmo atual, a cidade pode não ter água o suficiente em 2030.

Uma aposta da Cidade do México são aquíferos identificados no ano passado, cuja viabilidade está sendo estudada. Estão sendo perfurados poços para não apenas confirmar a existência das fontes subterrâneas de água, mas também avaliar sua qualidade para consumo humano.

Até 2016, as autoridades dizem que será possível saber se os aquíferos serão ou não uma alternativa de abastecimento para a megalópole. O problema, dizem, é que a perfuração, a 2 km de profundidade, deve sair muito mais cara do que perfurações de fontes mais próximas à superfície.

E muitos dizem que, além de buscar novas fontes, a cidade precisa aprender a evitar os desperdícios do sistema e a utilizar a água atual de forma mais eficiente.

É viável em SP? Para Whately, o uso de água subterrânea já é uma realidade para diversas cidades brasileiras, mas, por serem importantes reservas de água para o futuro, seu uso deve ser racional. "Ainda temos pouco conhecimento a respeito de nossos aquíferos. Eles precisam ser melhor estudados e mais bem cuidados – por exemplo, há locais em que o uso de agrotóxicos (no solo) pode prejudicá-los

Cidade do Cabo (África do Sul): guerra ao desperdício

Khayelitsha, a 20 km da Cidade do Cabo, é uma das maiores "townships" (como são chamadas as comunidades carentes sul-africanas) do país, com 450 mil habitantes. No início dos anos 2000, uma investigação descobriu que cerca de uma piscina olímpica era perdida por hora por causa de vazamentos em sua rede de água.

A principal fonte de desperdício eram os encanamentos domésticos, muitos dos quais deficientes e incapazes de resistir alta à pressão de bombeamento da água.

Com isso, aumentavam o consumo de água e também a inadimplência, já que muitas pessoas não conseguiam pagar as contas mais caras. Além disso, a Cidade do Cabo vive sob constante ameaça de falta d'água.

Um projeto-piloto de US$ 700 mil, iniciado em 2001, funcionou em duas frentes: a reforma de encanamentos ruins e a redução da pressão da água fornecida ao bairro, para evitar os vazamentos.

Segundo um relatório do governo da Cidade do Cabo, o projeto custou menos de US$ 1 milhão e o investimento foi recuperado em menos de seis meses.

Com a iniciativa, aliada a uma campanha de conscientização para evitar desperdícios, Khayelitsha conseguiu economizar 9 milhões de metros cúbicos de água por ano, equivalente a US$ 5 milhões, segundo o consórcio 2030 Water Resources.

É viável em SP? Para Whately, as perdas de água também são um "problema enorme" em São Paulo. "Quase um terço da água é perdida (no caminho ao consumidor), o que equivale a todo o volume do Guarapiranga e Alto Tietê juntos", diz. "Em alguns casos, encanamentos antigos podem contribuir para isso. Seria necessário mapear, com a ajuda das prefeituras, áreas onde há grandes perdas de água e identificar os motivos."
Fonte: www.uol.com.br

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O segredo da evolução animal



É uma das mais intrigantes perguntas já feitas sobre a biologia: o que fez com que alguns organismos abandonassem a simplicidade da vida unicelular, seguida com rigor durante bilhões de anos, e evoluíssem para atingir a complexidade vista no reino animal hoje? Foi um golpe de sorte? Acaso? Ou algo mais aconteceu? Segundo um grupo de pesquisadores americanos, a mudança estava no ar. Literalmente.

Na Terra primitiva, a atmosfera pobre em oxigênio "barrou" a evolução animal por bilhões de anos.
Na Terra primitiva, a atmosfera pobre em oxigênio “barrou” a evolução animal por bilhões de anos.
Resultados de análises de rochas colhidas em sedimentos antigos na China, na Austrália, no Canadá e nos Estados Unidos mostram que o momento em que o reino animal deu seus primeiros passos coincidiu com um brutal aumento da presença de oxigênio no ar.
Os pesquisadores liderados por Timothy Lyons, da Universidade da Califórnia em Riversidade, e Noah Planavsky, da Universidade Yale, investigaram especificamente a presença de certas variedades de cromo nessas amostras. Sabe-se que a presença de oxigênio no ar oxida esse elemento, deixando uma “assinatura” na rocha que permite estimar sua quantidade na atmosfera.
As rochas analisadas tinham entre 1,8 bilhão e 800 milhões de anos. Ou seja, elas correspondiam a um período em que não havia ainda vida animal em nosso planeta. Não por acaso, esse período é vulgarmente referido pelos pesquisadores como “o bilhão aborrecido”.
Por outro lado, como uma espécie de contraprova, eles testaram também sedimentos mais recentes, com idades entre 445 milhões e 90 milhões de anos, período em que já se sabe que a presença de oxigênio na atmosfera era significativa (dinossauro respirava pra caramba!).
As medições confirmaram isso sobre os períodos mais recentes, mostrando a validade da técnica, mas também revelaram um fato importante sobre o “bilhão aborrecido” — a presença de oxigênio no ar naquela época não chegava a 0,1% da quantidade atual. Só para lembrar, hoje esse gás perfaz cerca de 20% da nossa atmosfera (os outros 80% são nitrogênio, e demais gases figuram apenas em quantidades-traço).
COINCIDÊNCIA OU CONSEQUÊNCIA
O que há de tão interessante nisso? Não é tanto a relação entre oxigênio e vida animal, que já é meio óbvia. (Tente ficar sem respirar.) Já sabíamos que a manutenção de seres multicelulares complexos exige um metabolismo poderoso, que por sua vez, até onde sabemos, obrigatoriamente demanda quantidades significativas de oxigênio.
O que realmente faz os cientistas coçarem a cabeça é o seguinte: uma vez que você tem quantidades significativas de oxigênio na atmosfera, o salto para vida complexa é natural, ou foi preciso também uma grande dose de sorte evolutiva para acontecer?
Se os cientistas tivessem determinado que o “bilhão aborrecido” teve quantidades significativas de oxigênio, seríamos obrigados a imaginar que o salto para a vida complexa foi um golpe de sorte genético, que aconteceu muito tempo depois que as condições se mostraram favoráveis a ela.
Em vez disso, os pesquisadores verificaram que o aumento de oxigênio acontece praticamente na mesma época em que os fósseis animais começam a proliferar pela Terra. Uma coisa parece estar de fato ligada à outra. O desafio da vida complexa é meramente o desafio da oxigenação da atmosfera. A julgar pela coincidência no tempo, o desafio evolutivo, em si, é trivial.
A essa altura, você deve imaginar onde quero chegar. O trabalho sugere que, onde há vida simples e há fotossíntese produzindo oxigênio a ponto de ele se acumular na atmosfera, o surgimento da vida complexa parece ser uma consequência quase inevitável. A natureza, ao que tudo indica, privilegia a complexidade.

Se o trabalho, publicado na última edição da revista “Science”, estiver certo, temos aí uma grande chance de que muitos planetas espalhados pelo Universo também tenham vida animal. O surgimento de criaturas multicelulares complexas não parece mais ser um improvável acidente evolutivo, mas apenas o desfecho natural de um processo bioquímico relativamente simples. (Só para torturar você ainda mais, saiba que existem evidências de que a atmosfera de Marte chegou a ser altamente oxigenada em seu passado remoto, quando ele era ainda quente e úmido.)
Vida complexa, claro, não é garantia de vida inteligente. Mas trata-se de um passo essencial para chegar lá. (Eu, pelo menos, nunca vi uma bactéria inteligente. E o Doutor Bactéria não conta.)
Claro, uma coisa que não sabemos é por que teria levado tanto tempo para a Terra acumular oxigênio no ar. Ele é fabricado pela fotossíntese, uma invenção antiga implementada por bactérias mais de 3 bilhões de anos atrás. Os cientistas acreditam que o primeiro grande momento de oxigenação do ar se deu 2,3 bilhões de anos atrás, mas não teria perdurado. O que teria acontecido cerca de 800 milhões de anos atrás que levou a uma nova elevação do oxigênio, desta vez um caminho sem volta? Ninguém sabe ao certo.
De toda forma, fico só a imaginar quando, em coisa de uma década, os cientistas começarem a achar mundos fora do Sistema Solar com atmosferas ricas em oxigênio…

Fonte: www.uol.com.br

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Cerca de metade das espécies do planeta podem ser extintas até 2100.

Estamos avançando pela era geológica Antropoceno, na qual deverá ocorrer a sexta extinção em massa na história do planeta. Um estudo recente publicado no periódico "Science" concluiu que as espécies existentes no mundo hoje estão desaparecendo em uma velocidade mil vezes maior que o ritmo natural de extinção.
Segundo pesquisadores, em 2100, entre um terço e metade de todas as espécies da Terra poderá ser extinto. Em consequência disso, está havendo um aumento nos esforços para proteger espécies, e governos, cientistas e organizações sem fins lucrativos tentam construir uma versão moderna da Arca de Noé.
A nova arca certamente não terá a forma de um grande barco, e sim de uma série de medidas, incluindo migração assistida, bancos de sementes, novas reservas ecológicas e corredores de deslocamento baseados nos possíveis lugares para onde as espécies irão migrar.
As questões envolvidas são complexas. Que espécies deverão ser salvas? Aquelas mais ameaçadas de extinção ou as que têm maior chance de sobreviver? Animais carismáticos, como leões, ursos e elefantes, ou os mais úteis para nós?
Formada em 2012 pelos governos de 121 países, a Plataforma Intergovernamental de Serviços de Biodiversidade e Ecossistemas é uma iniciativa que visa proteger e restaurar espécies em áreas selvagens e resgatar outras, a exemplo das abelhas, que desempenham funções vitais para os ecossistemas habitados por humanos. Cerca de três quartos da produção mundial de alimentos dependem basicamente das abelhas.
Jason Holley
Ilustração de uma "Arca de Noé" para o Antropoceno, período em que a sexta extinção em massa do planeta pode ocorrer
Ilustração de uma "Arca de Noé" para o Antropoceno, período em que a sexta extinção em massa do planeta pode ocorrer
"Ainda sabemos muito pouco sobre o que poderá ou deverá ser incluído na arca e onde", afirmou Walter Jetz, ecologista da universidade Yale que está envolvido no projeto.
Embora a abordagem tradicional para proteger espécies seja adquirir terras, a preservação do habitat correto pode ser uma medida desejável, pois não se sabe como as espécies reagirão a um clima diferente.
Uma iniciativa com financiamento coletivo chamada Centro de Informações sobre Biodiversidade Global identifica e faz a curadoria de dados sobre biodiversidade -como fotos de espécies feitas com smartphones- para mostrar sua distribuição e depois disponibiliza as informações na internet.
Isso é muito útil para pesquisadores em países em desenvolvimento que dispõem de orçamentos limitados.
Por sua vez, o projeto Lifemapper, do Instituto de Biodiversidade da Universidade do Kansas, usa os dados para entender para onde uma espécie poderá se mudar se seu habitat for alterado.
"Sabemos que as espécies não resistem muito tempo em áreas fragmentadas, então tentamos reagrupar esses fragmentos", explicou Stuart L. Pimm, diretor da organização sem fins lucrativos SavingSpecies.
Um dos projetos dessa organização nos Andes colombianos identificou uma floresta na qual há um mamífero carnívoro chamado olinguito, que tem traços de gato doméstico e ursinho de pelúcia, até então desconhecido pela ciência.
Usando dados de diversas fontes, "trabalhamos com grupos conservacionistas locais e os ajudamos a comprar terras, a reflorestá-las e a reagrupar seus pedaços", disse o doutor Pimm.
Biólogos na Flórida, onde o nível do mar está subindo assustadoramente, estão desenvolvendo um plano para montar uma reserva no interior para diversos animais, desde o passarinho da espécie Ammodramus maritimus macgillivraii ao pequeno veado-de-cauda-branca.
Para impedir a chamada "pressão costeira", está prevista uma rede de "corredores verdes migratórios" para que as espécies se mudem por conta própria para o novo habitat.
"Algumas, porém, estão basicamente sem saída", comentou Reed F. Noss, professor na Universidade Central da Flórida que está envolvido nesse projeto, e provavelmente terão de ser conduzidas para o novo hábitat.
Pesquisadores também estão focados em "refúgios", regiões pelo mundo que se mantiveram estáveis em mudanças climáticas anteriores e podem ser a melhor aposta para a sobrevivência nesta nova era geológica.
Um refúgio de 100 hectares no rio Little Cahaba, no Alabama, tem sido apontado como um mundo botânico perdido devido à sua ampla variedade de plantas, incluindo oito espécies só encontradas nesse lugar.
O doutor Noss disse que é preciso descobrir e proteger áreas com essas características. O Banco Mundial de Sementes de Svalbard, sob o permafrost em uma ilha no oceano Ártico ao largo da Noruega, preserva sementes de culturas agrícolas destinadas à alimentação.
Zoológicos congelados guardam o material genético de animais extintos ou ameaçados de extinção. A bióloga e conservacionista Connie Barlow está trabalhando na região oeste dos Estados Unidos.
"Ajudei na migração do junípero-jacaré do Novo México plantando sementes dele no Colorado", disse ela. "É preciso fazer isso, pois a mudança climática está muito acelerada e as árvores não conseguem se deslocar."

Fonte: www.folha.com.br