quarta-feira, 31 de maio de 2017

Pílula anti-HIV: saiba os efeitos do remédio e como será usado para a prevenção da doença

Apartir desta segunda-feira (29), o Ministério da Saúde passa a disponibilizar, gradativamente nos próximos 180 dias, a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) contra o vírus HIV. Na prática, um grupo inicial de 7 mil pessoas em grupos estratégicos deverão receber um medicamento para tomar no dia-a-dia e prevenir a infecção. O G1 ouviu três especialistas no assunto: os infectologistas Artur Timerman, Esper Kallas e Caio Rosenthal (assista ao vídeo), e responde as principais perguntas sobre o assunto.

1. Estou no grupo que vai receber o medicamento?

Inicialmente o governo deve priorizar 12 cidades brasileiras: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Manaus, Brasília, Florianópolis, Salvador e Ribeirão Preto. De acordo com o Ministério da Saúde, esses municípios foram escolhidos por terem participado de projetos piloto para o uso da pílula.
Além disso, poderão receber o remédio populações-chave, determinadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS): casais soro diferentes, gays; homens que fazem sexo com homens; profissionais do sexo e pessoas transgêneros (travestis e transexuais).

2. O que é o medicamento?

O remédio será distribuído para previnir a infecção pelo vírus HIV no Brasil e já é utilizado em outros países para o mesmo fim, como os Estados Unidos, e os estudos demonstram alta taxa de eficiência: 90%, de acordo com o Ministério da Saúde.
A marca mais conhecida é o Truvada, usada em alguns países. O Ministério da Saúde disse há possibilidade de importar o produto, mas que uma licitação deverá ser feita.
Ele combina dois medicamentos em um comprimido: o fumarato de tenofovir desoproxila (TDF, 300 mg) e a emtricitabina (FTC, 200 mg). Os dois, junto a uma terceira substância, já fazem parte do coquetel de tratamento contra a doença há muitos anos.

3. O que é PrEP?

A Profilaxia Pré-Exposição é a ingestão do medicamento em grupos de risco do HIV para evitar que novas pessoas sejam infectadas. Há, ainda, a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), feita no Brasil desde 2010 - quando a pessoa recebe um tratamento a base de um coquetel logo após um comportamento de risco, ou para profissionais de saúde que possam ter se infectado ao tratar pacientes.

4. Como o remédio vai agir no meu corpo?

Ele impede a transcrição do material genético do vírus HIV, evitando se instale nas células do corpo.

5. Se esquecer de tomar um dia, o remédio perde a eficiência?

Os dois médicos informaram que o medicamento mantém o efeito por um bom tempo no corpo. Então, esquecer de tomar um único dia não é o problema. De acordo com Kallas, ele geralmente é ingerido de três a quatro vezes por semana.

6. Quais são os efeitos colaterais?

Logo no início do tratamento, de acordo com Kallas, pode haver enjoo, mas é raro.
A longo prazo, de acordo com Timerman, o remédio pode causar problemas renais e alterar a calcificação dos ossos. Por isso, ele defende que os pacientes sejam acompanhados de seis em seis meses por um médico. "Dar esse remédio sem um controle é muito arriscado", disse.
Outro ponto lembrado tanto pelos médicos, quanto pelos órgãos de saúde, é que o remédio não previne contra outras Doenças Sexualmente Transmissíveis, como a gonorreia e a sífilis. Camisinha ainda precisa ser usada para evitar essas infecções.

domingo, 14 de maio de 2017

IMPACTOS AMBIENTAIS - Aula


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Aspirina pode prevenir propagação do câncer

Se já existiu um medicamento-maravilha, pode ser a aspirina. Originalmente derivado das folhas de salgueiro, esse artigo essencial do armário de remédios da família foi utilizado com sucesso por gerações para tratar de artrite à febre, além de prevenir derrames, ataques cardíacos e até mesmo alguns tipos de câncer, dentre outras doenças. De fato, a droga é tão popular que seu consumo mundial anual gira em torno de 120 bilhões de comprimidos.

Nos últimos anos, cientistas descobriram outro possível uso para a aspirina: parar a propagação de células cancerígenas no corpo depois que um tumor inicial já se formou. A pesquisa ainda está em desenvolvimento, mas as descobertas sugerem que o medicamento pode, um dia, formar a base para uma poderosa adição às terapias atuais para o câncer.

Entretanto, nem todo mundo responde da mesma forma positiva à droga e, para algumas pessoas, ela pode ser bastante perigosa. Por isso, pesquisadores buscam desenvolver teste genéticos para determinar quem tem mais probabilidade de se beneficiar do uso de aspirina a longo prazo. A mais recente pesquisa sobre o efeito inibitório do medicamento sobre o câncer está gerando descobertas que, possivelmente, poderiam servir como referência.

Inumeráveis mecanismos

Durante o século passado, pesquisadores demonstraram que a aspirina inibe a produção de certas substâncias similares a hormônios, chamadas prostaglandinas. Depende do local do corpo onde as prostaglandinas são produzidas, elas podem desencadear dor, inflamação, febre ou coagulação sanguínea.

Obviamente, ninguém deseja bloquear essas respostas naturais o tempo todo - particularmente porque elas ajudam o corpo a se curar de cortes, machucados, infecções e outros ferimentos. Porém, algumas vezes elas se demoram por tempo demais, causando mais prejuízos que coisas boas. Inflamações de longa duração, ou crônicas, por exemplo, aumentam o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas e câncer, causando danos repetidos a tecidos normais. Eventualmente, o tecido danificado, dependendo de onde está localizado e de outros fatores, pode se tornar uma placa que obstrui vasos e artérias coronárias, ou um pequeno tumor muito escondido dentro do corpo. Diminuindo o pico de prostaglandina, a aspirina previne milhares de ataques cardíacos todos os anos e provavelmente impede a formação de um número significante de tumores.

Em 2000, cientistas descobriram um segundo grande mecanismo de ação da aspirina no corpo. A droga impulsiona a produção de moléculas chamadas resolvinas, que também ajudam a extinguir inflamações.

Mais recentemente, pesquisadores começaram a elucidar uma terceira forma da aspirina funcionar - uma que interfere na habilidade das células cancerígenas se espalharem pelo corpo no processo de metástase. Intrigantemente, nesse caso, as propriedades antiinflamatórias da droga parecem não desempenhar um papel principal.

A metástase é um processo complexo que, um tanto contraintuitivamente, requer uma certa quantidade de cooperação entre as células tumorais e seu hospedeiro. Uma quantidade de células malignas deve se soltar do tumor original, atravessar as paredes de um vaso sanguíneo próximo para entrar na corrente sanguínea e evitar ser detectada pelos defensores do sistema imune enquanto viajam pelo corpo. Aquelas que sobrevivem devem, então, atravessar as paredes de outro vaso sanguíneo em um lugar diferente do corpo, encaixar-se no tecido ao redor - o qual é completamente diferente local onde se originaram - e começar a crescer.

Elisabeth Battinelli, hematologista do Hospital Brigham de Mulheres em Boston, mostrou que as células chamadas plaquetas, mais conhecidas por sua capacidade de desencadear coágulos sanguíneos, também têm um papel importante ao permitir que as células tumorais se espalhem. As primeiras células malignas cobrem certos sinais químicos das plaquetas, as quais se acumulam ao longo da parede dos vasos sanguíneos. No ententanto, em vez de dirigir a reparação de uma potencial violação na parede, esses sinais repropositados ajudam as células cancerosas a atravessarem a barreira e se esgueirar para a corrente sanguínea. Então, as células cancerosas se cobrem em uma camada protetora de plaquetas para se esconder das patrulhas sentinelas do sistema imunológico. Uma vez que as células tumorais deixam a corrente sanguínea em algum local distante, elas instruem as plaquetas que vieram junto a produzirem os chamados fatores de crescimento, que desencadeiam o desenvolvimento de novos vasos sanguíneos, “avenidas” essenciais que transportam nutrientes e oxigênio para o agora próspero tumor secundário.

Pesquisadores muitas vezes injetam células tumorais na corrente sanguínea de ratos para estimar o que acontece durante a metástase quando as células cancerosas devem navegar na corrente sanguínea para encontrar uma nova casa no corpo. Quando Battinelli e sua equipe deram aspirina a certos ratos e, depois, injetaram neles células malignas, os pesquisadores descobriram que as plaquetas não protegem as células cancerosas separadas do sistema imunológico, nem produzem os fatores de crescimento necessários que permitem que as células cancerígenas cresçam e se dividam em um novo lugar. Assim, a aspirina parece combater o câncer de duas maneiras: sua ação antiinflamatória impede que alguns tumores se formem e suas propriedades antiplaquetárias interfiram na capacidade de algumas células cancerosas para se espalharem.

Re-fiação de plaquetas

Como a aspirina impede que células tumorais de sequestrarem plaquetas para agirem sob seu comando? Ao invés de bloquear um único componente (a prostaglandina, por exemplo), o medicamento parece ligar ou desligar grupos inteiros no núcleo de certas células sanguíneas.

Para tentar entender melhor este efeito da aspirina anteriormente desconhecido, o cardiologista Deepak Voora, da Universidade Duke, e seus colegas examinaram células chamadas megacariócitos, as quais dão origem às plaquetas. Utilizando ferramentas matemáticas e farmacológicas complexas, eles identificaram cerca de 60 genes que são ou ligados ou desligados nos megacariócitos em resposta à aspirina. O resultado final de toda essa manipulação genética: as plaquetas produzidas pelos megacariócitos não se aglomeraram, o que, presumivelmente, as impediu de camuflar células cancerosas. Assim, além de bloquear prostaglandinas, a aspirina basicamente fez a “re-fiação das plaquetas” para que não sirvam como cúmplices inadvertidos da metástase.

Ainda há muita pesquisa básica a ser conduzida, diz Voora, antes de determinar a viabilidade de uma terapia baseada em aspirina para a prevenção de metástase. Os próximos passos consistem em confirmar esses experimentos em grupos maiores e mais diversos de pessoas, além de entender melhor as funções normais desses genes sensíveis à aspirina. No meio tempo, pesquisadores esperam aprender o suficiente para criar um teste genético que tornará possível dizer se um paciente pode se beneficiar tomando o medicamento. Idealmente, um teste desses determinaria não apenas a dose mais efetiva da droga, mas também se o corpo da pessoa está reagindo à mediação como previsto ou não.

Muito do benefício cardiovascular da aspirina, por exemplo, vem de sua habilidade - em uma dose de 81 miligramas - de prevenir a formação de coágulos na corrente sanguínea. E, ainda, um estudo com 325 pessoas descobriu que a aspirina não possui efeito algum no processo de coagulação em 5% dos pacientes os quais usam o medicamento, com outros 24% tendo um efeito reduzido. Além disso, algumas pessoas podem sofrer efeitos colaterais severos - como sangramentos. Portanto, nenhum clínico responsável aconselharia todo mundo a tomar o remédio todos os dias.

Até o momento, a única maneira de saber com certeza que um paciente é resistente aos efeitos anticoagulantes da aspirina é testando o sangue da pessoa após várias semanas de terapia, para ver se leva mais tempo para formar coágulos do que antes - uma proposta cara e não muito prática. Provavelmente testes genéticos seriam mais baratos, mas estão muito distantes. "É desafiador desenvolver um único teste molecular que diga se alguém vai responder [à aspirina] ou não, porque ficou claro que não há um único caminho pelo qual a aspirina funciona", diz Andrew Chan, epidemiologista da Escola de Medicina de Harvard. Em outras palavras, pesquisadores e médicos terão que examinar vários genes diferentes - e suas complexas interações - para determinar a probabilidade de um paciente se beneficiar do tratamento com aspirina, seja para doenças cardiovasculares ou câncer.

Até então, a Força-Tarefa para Serviços Preventivos dos Estados Unidos, um painel nacional de especialistas de saúde independentes, recomenda uma baixa dose de aspirina para prevenir doenças cardiovasculares e câncer colorretal apenas para um grupo muito seleto de pessoas. Aqueles que podem se beneficiar mais, de acordo com as evidências disponíveis, são adultos entre 50 e 59 anos os quais provavelmente viverão ao menos mais uma década, têm um risco de 10% ou mais de ter um ataque cardíaco ou derrame durante esse período, não possuem risco maior de sangramento (por causa de outros medicamentos, por exemplo) e estão dispostos a tomar aspirina de baixa dose diariamente durante pelo menos dez anos. Para os adultos com idade entre 60 e 69 anos, a força-tarefa recomenda uma oferta seletiva de tratamento com aspirina, dependendo das circunstâncias individuais. Ela determinou que não há evidências suficientes para pesar os potenciais benefícios contra possíveis danos para o uso diário de aspirina em adultos com menos de 50 anos ou mais de 70.

Contudo, a maioria dos pacientes que já sofreram um ataque cardíaco ou derrame parece se beneficiar com uma terapia de uso regular de aspirina apesar da idade, diz Paul Gurbel, diretor do Centro Inova para Pesquisa de Trombose e Medicina Translacional em Falls Church, Virgínia. E se você acredita que está sofrendo um ataque cardíaco, muitos doutores recomendam mastigar um comprimido de 325 miligramas de aspirina imediatamente após ligar para a emergência, para minimizar o dano de qualquer potencial coágulo.

Mesmo assim, a aspirina não pode compensar uma vida de maus hábitos. Deixar de fumar - ou, melhor ainda, nunca começar - comer com moderação, manter-se magro e fisicamente ativo pode ser tão eficaz - ou até mais - quanto tomar aspirina diariamente para evitar vários problemas de saúde, incluindo doenças cardíacas e câncer. Ela pode ser uma droga incrível, mas ainda não é uma cura para tudo que nos aflige.

Viviane Callier

Fonte: http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/aspirina_pode_prevenir_propagacao_do_cancer.html

Primeira candidata a vacina atenuada protege contra a infecção por Zika

A primeira vacina viva atenuada contra o Zika, ainda em estágio de desenvolvimento, conseguiu lograr proteção total contra o vírus em camundongos inoculados com uma dose única, de acordo com uma nova pesquisa feita em parceria pelo do Instituto Evandro Chagas, do Ministério da Saúde brasileiro e a Divisão Médica da Universidade do Texas (UTMB, na sigla em inglês) em Galveston. As descobertas estão disponíveis na revista científica Nature Medicine.
Enquanto a infecção por Zika tipicamente resulta em sintomas leves ou inexistentes em adultos e crianças saudáveis, o risco de microcefalia e outras doenças em fetos em desenvolvimento é uma consequência alarmante, que criou uma ameaça à saúde mundial. Mulheres grávidas infectadas com o vírus Zika que nunca demonstraram qualquer sintoma da doença podem, mesmo assim, ter um bebê com microcefalia.

Uma vacina efetiva é urgentemente necessária para mulheres em idade fértil e pessoas que viajam a áreas onde há relatos do vírus. Uma vez que o vírus Zika também pode ser sexualmente transmitido, prevenir a infecção em homens por meio de vacinação também pode ajudar a bloquear a transmissão.

Avanços promissores em direção a uma vacina para o Zika tem sido feitos. Estas vacinas em desenvolvimento foram feitas a partir de uma versão inativa do vírus ou de subunidades dele. Estes candidatos à vacina se mostraram eficazes em camundongos e primatas não-humanos.

"Escolhemos buscar uma vacina feita a partir de um vírus vivo que foi enfraquecido, por razões de segurança, e era capaz de gerar uma resposta imune robusta para nos proteger contra a infecção por Zika. Essa vacina atenuada tem as vantagens de requerer uma única dose de imunização, resposta imunológica rápida e forte, além de proteção potencialmente prolongada", disse Pei-Yong Shi, autor sênior e professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UTMB. "Uma vacina bem sucedida requer um equilíbrio preciso entre eficácia e segurança - vacinas feitas a partir de vírus vivos atenuados geralmente oferecem imunidade rápida e duradoura, mas, às vezes, em troca de segurança reduzida; os vírus inativados e subunidades frequentemente proporcionam maior segurança, mas podem exigir várias doses iniciais e reforços periódicos.Portanto, uma vacina viva atenuada segura será ideal na prevenção da infecção pelo vírus Zika, especialmente em países em desenvolvimento.”

Para criar a vacina, os pesquisadores manipularam o vírus Zika eliminando um segmento do genoma viral. Uma abordagem semelhante tem sido utilizada com sucesso para desenvolver uma vacina contra o vírus da dengue, atualmente na fase três de testes clínicos.

Shi explicou que os dados indicam que a vacina em desenvolvimento pela equipe tem um bom equilíbrio entre segurança e eficácia. Uma única imunização com a vacina candidata produziu fortes respostas imunológicas e impediu totalmente que o vírus infectasse os camundongos.

"A segurança é um grande obstáculo ao desenvolver uma vacina atenuada. Nossa vacina contra Zika mostrou um perfil de segurança promissor em camundongos quando comparada com vacinas vivas atenuadas clinicamente aprovadas, como a contra febre amarela", disse Shi.

"As vacinas são uma ferramenta importante para a prevenção da microcefalia e da transmissão do vírus Zika", disse Pedro F. C. Vasconcelos, virologista médico, atual diretor do Instituto Evandro Chagas e co-autor do estudo. "Essa vacina, a primeira atenuada para Zika, irá melhorar as ações da saúde pública para evitar defeitos de nascença e doenças causadas pelo vírus em países onde ele é comumente encontrado. O alvo inicial de vacinação são as mulheres em idade fértil, seus parceiros sexuais e crianças com menos de dez anos de idade.”

 

University of Texas Medical Branch at Galveston

Fonte:http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/primeira_candidata_a_vacina_atenuada_protege_completamente_contra_a_infeccao_por_zika.html

Evidências interculturais para a genética da homossexualidade

Há muito tempo o público se interessa por saber as razões pelas quais as pessoas são homo, hetero ou bissexuais. De fato, a pesquisa sobre orientação sexual oferece uma janela poderosa para entender a sexualidade humana. A revista científica Archives of Sexual Behavior publicou recentemente uma edição dedicada à pesquisa nessa área, intitulada de “O Quebra-Cabeças da Orientação Sexual”. Um estudo dos estudos apresentados na edição, conduzido por cientistas da Universidade de Lethbridge em Alberta, no Canadá, fornece fortes evidências interculturais de que fatores genéticos comuns estão por trás da preferência sexual, em homens, por pessoas do mesmo sexo.


No sul do México, indivíduos biologicamente masculinos que são atraídos sexualmente por homens são conhecidos como muxes. Eles são reconhecidos como um terceiro gênero: muxe nguiiu tendem a ter aparência e comportamento masculinos, enquanto muxe gunaa são mais femininos. Na cultura ocidental, seriam considerados homens gays e mulheres transgênero, respectivamente,

Diversos correlatos de androfilia masculina - termo que identifica pessoas que são biologicamente homens e sexualmente atraídos por homens - aparecem em diferentes culturas, sugerindo um alicerce biológico comum entre eles. Por exemplo, o efeito da ordem de nascimento fraterna - fenômeno pelo qual se prediz a androfilia masculina quando se tem um número maior de irmãos biológicos mais velhos - é evidente tanto na cultura ocidental quanto na samoana.

Na sociedade ocidental, homens homossexuais, em comparação aos heterossexuais, tendem a apresentar níveis mais elevados de ansiedade de separação - a angústia resultante da separação das maiores figuras de apego, como o principal cuidador ou membros próximos da família. Pesquisas em Samoa demonstraram de forma semelhante que os indivíduos do terceiro gênero fa`afafine - femininos na aparência, biologicamente masculinos e atraídos por homens - também apresentam uma maior ansiedade de separação na infância quando comparados aos homens samoanos heterossexuais. Assim, se um padrão semelhante em relação à ansiedade de separação fosse encontrado em uma terceira cultura diferente - no caso, a região de Istmo, em Oaxaca, no México - isso aumentaria as evidências de que a androfilia masculina tem bases biológicas.

O atual estudo incluiu 141 mulheres heterossexuais, 135 homens heterossexuais e 178 muxes (61 muxe nguiiu e 117 muxe gunaa). Os participantes do estudo foram entrevistados através de um questionário que perguntava sobre ansiedade de separação; mais especificamente, angústias e preocupações que vivenciaram, quando crianças, em relação a serem separados de uma figura paterna. Eles avaliaram o quão real era cada uma das questões quando tinham entre 6 e 12 anos de idade.

Muxes mostraram níveis mais elevados de ansiedade por separação na infância quando comparados com homens heterossexuais, similar ao que foi observado em homens gays no Canadá e nos fa’afafine em Samoa. Tambem não houve diferenca alguma em níveis de ansiedade entre mulheres e muxe nguiiu ou muxe gunaa, ou entre os dois tipos de muxes.

Quando consideramos possíveis explicações para esses resultados, os mecanismos sociais são improváveis, pois pesquisas anteriores mostraram que a ansiedade é hereditária e os pais tendem a agir em resposta aos traços das crianças e comportamentos, não o contrário. Mecanismos biológicos, no entanto, oferecem uma conta mais convincente. Por exemplo, acredita-se que a exposição a níveis típicos femininos de hormônios esteróides sexuais no ambiente pré-natal "feminiza" regiões do cérebro masculino relacionadas à orientação sexual, influenciando, assim, o apego e a ansiedade.

Além disso, estudos em genética molecular mostraram que a Xq28, uma região localizada na ponta do cromossomo X, está envolvida tanto na expressão da ansiedade quanto na androfilia masculina. Isso sugere que fatores genéticos comuns podem estar por trás da expressão de ambos. Estudos com gêmeos também apontam para explicações genéticas como a força base para a preferência por parceiros do mesmo sexo em homens e para o neuroticismo, um traço de personalidade que é comparável à ansiedade.

Essas descobertas sugerem que ansiedade por separação na infância pode ser um correlativo culturalmente universal da androfilia em homens. Isso possui implicações importantes no nosso entendimento das condições de saúde mental em crianças, já que níveis subclínicos de ansiedade por separação, quando entrelaçados com androfilia masculina, podem representar uma parte típica do curso de desenvolvimento da vida.

Na presente situação, a pesquisa sobre orientação sexual continuará a despertar interesse e controvérsia generalizada num futuro próximo, pois ela tem o potencial de ser usada - para o bem ou para o mal - para defender questões sociopolíticas particulares. A aceitação moral da homossexualidade, muitas vezes, dependia da idéia de que os desejos por alguém do mesmo sexo são inatos, imutáveis e, portanto, não são uma escolha. Isso fica claro quando pensamos em como as crenças anteriores em torno da homossexualidade foram usadas para justificar tentativas (agora desacreditadas) de mudar esses desejos.

As semelhanças interculturais evidenciadas pelo presente estudo oferecem mais uma prova de que ser gay é algo genético - o que, por si só, já é uma descoberta interessante. Mas nós, como sociedade, devemos desafiar a noção de que as orientações sexuais devem ser não-volitivas para serem socialmente aceitáveis ou estarem a salvo de cotestações. A etiologia da homossexualidade, biológica ou não, não deve ter qualquer influência sobre o direito dos indivíduos gays à igualdade.

Debra W. SohHá muito tempo o público se interessa por saber as razões pelas quais as pessoas são homo, hetero ou bissexuais. De fato, a pesquisa sobre orientação sexual oferece uma janela poderosa para entender a sexualidade humana. A revista científica Archives of Sexual Behavior publicou recentemente uma edição dedicada à pesquisa nessa área, intitulada de “O Quebra-Cabeças da Orientação Sexual”. Um estudo dos estudos apresentados na edição, conduzido por cientistas da Universidade de Lethbridge em Alberta, no Canadá, fornece fortes evidências interculturais de que fatores genéticos comuns estão por trás da preferência sexual, em homens, por pessoas do mesmo sexo.

No sul do México, indivíduos biologicamente masculinos que são atraídos sexualmente por homens são conhecidos como muxes. Eles são reconhecidos como um terceiro gênero: muxe nguiiu tendem a ter aparência e comportamento masculinos, enquanto muxe gunaa são mais femininos. Na cultura ocidental, seriam considerados homens gays e mulheres transgênero, respectivamente,

Diversos correlatos de androfilia masculina - termo que identifica pessoas que são biologicamente homens e sexualmente atraídos por homens - aparecem em diferentes culturas, sugerindo um alicerce biológico comum entre eles. Por exemplo, o efeito da ordem de nascimento fraterna - fenômeno pelo qual se prediz a androfilia masculina quando se tem um número maior de irmãos biológicos mais velhos - é evidente tanto na cultura ocidental quanto na samoana.

Na sociedade ocidental, homens homossexuais, em comparação aos heterossexuais, tendem a apresentar níveis mais elevados de ansiedade de separação - a angústia resultante da separação das maiores figuras de apego, como o principal cuidador ou membros próximos da família. Pesquisas em Samoa demonstraram de forma semelhante que os indivíduos do terceiro gênero fa`afafine - femininos na aparência, biologicamente masculinos e atraídos por homens - também apresentam uma maior ansiedade de separação na infância quando comparados aos homens samoanos heterossexuais. Assim, se um padrão semelhante em relação à ansiedade de separação fosse encontrado em uma terceira cultura diferente - no caso, a região de Istmo, em Oaxaca, no México - isso aumentaria as evidências de que a androfilia masculina tem bases biológicas.

O atual estudo incluiu 141 mulheres heterossexuais, 135 homens heterossexuais e 178 muxes (61 muxe nguiiu e 117 muxe gunaa). Os participantes do estudo foram entrevistados através de um questionário que perguntava sobre ansiedade de separação; mais especificamente, angústias e preocupações que vivenciaram, quando crianças, em relação a serem separados de uma figura paterna. Eles avaliaram o quão real era cada uma das questões quando tinham entre 6 e 12 anos de idade.

Muxes mostraram níveis mais elevados de ansiedade por separação na infância quando comparados com homens heterossexuais, similar ao que foi observado em homens gays no Canadá e nos fa’afafine em Samoa. Tambem não houve diferenca alguma em níveis de ansiedade entre mulheres e muxe nguiiu ou muxe gunaa, ou entre os dois tipos de muxes.

Quando consideramos possíveis explicações para esses resultados, os mecanismos sociais são improváveis, pois pesquisas anteriores mostraram que a ansiedade é hereditária e os pais tendem a agir em resposta aos traços das crianças e comportamentos, não o contrário. Mecanismos biológicos, no entanto, oferecem uma conta mais convincente. Por exemplo, acredita-se que a exposição a níveis típicos femininos de hormônios esteróides sexuais no ambiente pré-natal "feminiza" regiões do cérebro masculino relacionadas à orientação sexual, influenciando, assim, o apego e a ansiedade.

Além disso, estudos em genética molecular mostraram que a Xq28, uma região localizada na ponta do cromossomo X, está envolvida tanto na expressão da ansiedade quanto na androfilia masculina. Isso sugere que fatores genéticos comuns podem estar por trás da expressão de ambos. Estudos com gêmeos também apontam para explicações genéticas como a força base para a preferência por parceiros do mesmo sexo em homens e para o neuroticismo, um traço de personalidade que é comparável à ansiedade.

Essas descobertas sugerem que ansiedade por separação na infância pode ser um correlativo culturalmente universal da androfilia em homens. Isso possui implicações importantes no nosso entendimento das condições de saúde mental em crianças, já que níveis subclínicos de ansiedade por separação, quando entrelaçados com androfilia masculina, podem representar uma parte típica do curso de desenvolvimento da vida.

Na presente situação, a pesquisa sobre orientação sexual continuará a despertar interesse e controvérsia generalizada num futuro próximo, pois ela tem o potencial de ser usada - para o bem ou para o mal - para defender questões sociopolíticas particulares. A aceitação moral da homossexualidade, muitas vezes, dependia da idéia de que os desejos por alguém do mesmo sexo são inatos, imutáveis e, portanto, não são uma escolha. Isso fica claro quando pensamos em como as crenças anteriores em torno da homossexualidade foram usadas para justificar tentativas (agora desacreditadas) de mudar esses desejos.

As semelhanças interculturais evidenciadas pelo presente estudo oferecem mais uma prova de que ser gay é algo genético - o que, por si só, já é uma descoberta interessante. Mas nós, como sociedade, devemos desafiar a noção de que as orientações sexuais devem ser não-volitivas para serem socialmente aceitáveis ou estarem a salvo de cotestações. A etiologia da homossexualidade, biológica ou não, não deve ter qualquer influência sobre o direito dos indivíduos gays à igualdade.

Debra W. Soh

Fonte:http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/evidencias_interculturais_para_a_genetica_da_homossexualidade.html

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Com tratamento, expectativa de vida de infectados com HIV já está 'perto do normal', diz estudo


remédios para HIVDireito de imagemSCIENCE PHOTO LIBRARY
Image captionA terapia antirretroviral é uma combinação de três remédios ou mais para impedir a multiplicação do vírus HIV no corpo humano.
Jovens contaminados com HIV (vírus da imunodeficiência) que passam a tomar o coquetel de remédios já conseguem ter uma expectativa de vida "bem perto da normal" graças a avanços no tratamento, segundo um estudo publicado na revista científica britânica The Lancet.
Pessoas de 20 anos que começaram o tratamento antirretroviral em 2010 já têm uma expectativa de vida 10 anos mais alta que a de jovens da mesma idade submetidos ao tratamento em 1996.
Médicos dizem que começar o tratamento cedo é crucial para conseguir atingir uma qualidade de vida melhor e por mais tempo. Mas ONGs de ajuda a soropositivos alertam que muitas pessoas ainda vivem sem saber que estão contaminadas.

Prevenção mais efetiva

Os autores do estudo, da Universidade de Bristol, disseram que o sucesso extraordinário dos tratamentos para o HIV - que causa a AIDS, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - resulta do surgimento de novos remédios com menos efeitos colaterais e mais eficientes para impedir a proliferação do vírus no corpo.
Também ficou mais difícil para o vírus conseguir criar resistência aos remédios mais recentes.
A evolução dos exames para detectar o vírus e dos programas de prevenção, aliados aos avanços no tratamento de problemas de saúde causados pelo HIV, podem ter ajudado também, segundo o estudo.
A terapia antirretroviral envolve uma combinação de três ou mais remédios que bloqueiam o desenvolvimento normal do HIV.
Eles já são considerados "umas das histórias de maior sucesso da saúde pública nos últimos 40 anos":

Três remédios uma vez por dia

Jimmy Isaacs, de 28 anos, descobriu ter sido infectado com o HIV por um parceiro sexual há três anos.
Desde então, ele toma três remédios uma vez por dia às 18h e continuará fazendo isso pelo resto de sua vida.
"Minha saúde está perfeita. Eu tenho comido de maneira saudável e bebido de maneira saudável também", disse.
"Isso não tem qualquer impacto no meu trabalho e também não impactou na minha vida social."
Foram necessárias duas mudanças de medicação para encontrar a combinação certa para ele, mas depois disso, ele não sentiu mais qualquer efeito colateral.
"Eu ouvi muitas histórias ruins sobre os remédios nos anos 1990. Mas quando pesquisei mais a fundo sobre o tema, percebi que os remédios haviam realmente mudado."
Nem todos os locais em que trabalhou demonstraram apoio quando souberam do diagnóstico, mas ele diz que isso é pura "ignorância".
Jimmy IsaacsDireito de imagemJIMMY ISAACS
Image captionJimmy Isaacs, de 28 anos, diz que tem uma vida saudável com tratamento
Seu chefe atual tem um comportamento diferente: chegou até a dar a ele uns dias de folga para viajar pelo país e falar com estudantes e adolescentes sobre a prevenção ao HIV e o tratamento para o vírus.
A pesquisa analisou 88,5 mil pessoas com HIV de Europa e América do Norte que participaram de 18 estudos.
Eles basearam a previsão para a expectativa de vida em taxas de mortalidade durante os três primeiros anos seguidos do início do tratamento.
Os autores descobriram que poucos pacientes que começaram o tratamento entre 2008 e 2010 morreram durante esse período - comparados com aqueles que começaram o tratamento entre 1996 e 2007.
A expectativa de vida para um paciente de 20 anos de idade que começou a terapia antirretroviral depois de 2008, com baixa carga de vírus, é de 78 anos de idade - bem similar à do resto da população saudável.
Michael Brady, diretor médico do Instituto Terrence Higgins Trust, entidade beneficente engajada especialmente em campanhas para reduzir a contaminação pelo vírus HIV, disse que o estudo mostra como as coisas mudaram desde o início da epidemia em 1980.
Mas ele afirma também que pessoas acima dos 50 anos agora representam um terço dos contaminados com o vírus do HIV.
"Nós precisamos de um novo modelo para cuidar melhor dessas pessoas conforme elas vão ficando mais velhas, uma forma de integrar melhor os primeiros cuidados com serviços especializados sobre o HIV, e precisamos de uma conscientização maior para treinar as pessoas sobre o envelhecimento com HIV, para que estejamos prontos para ajudar as pessoas a ter uma vida melhor", afirmou.

Conquista

Para Helen Stokes-Lampard, que comanda a associação de clínicos gerais Royal College of GPs, é "uma conquista tremenda o fato de a infecção que um dia teve um prognóstico tão ruim ser agora tão 'controlável' que pacientes com HIV estão conseguindo viver significativamente mais".
"Nós esperamos que o resultado desse estudo avance para acabar com qualquer estigma restante associado com o HIV. E que ele garanta que pacientes com o vírus possam ter vidas saudáveis sem qualquer dificuldade para conseguir emprego ou para conseguir um seguro de saúde."
A proporção de pessoas que têm o vírus do HIV mas ainda não foram diagnosticados tem caído bastante nos últimos 20 anos. Mas estima-se que uma em cada oito pessoas contaminadas ainda não sabe que têm o vírus.

O que é a terapia antirretroviral:

  • Foi usada pela primeira vez em 1996 e envolve uma combinação de três remédios ou mais para impedir a multiplicação do vírus HIV no corpo humano.
  • O tratamento permite a prevenção de danos causados pelo HIV no sistema imunológico.
  • Remédios ainda mais eficientes descobertos recentemente têm menos efeitos colaterais do que os primeiros.
  • A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que a terapia antirretroviral comece o mais cedo possível depois do diagnóstico do vírus.

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/internacional-39853651