quinta-feira, 20 de abril de 2017

Primeira candidata a vacina atenuada protege contra a infecção por Zika


A primeira vacina viva atenuada contra o Zika, ainda em estágio de desenvolvimento, conseguiu lograr proteção total contra o vírus em camundongos inoculados com uma dose única, de acordo com uma nova pesquisa feita em parceria pelo do Instituto Evandro Chagas, do Ministério da Saúde brasileiro e a Divisão Médica da Universidade do Texas (UTMB, na sigla em inglês) em Galveston. As descobertas estão disponíveis na revista científica Nature Medicine.

Enquanto a infecção por Zika tipicamente resulta em sintomas leves ou inexistentes em adultos e crianças saudáveis, o risco de microcefalia e outras doenças em fetos em desenvolvimento é uma consequência alarmante, que criou uma ameaça à saúde mundial. Mulheres grávidas infectadas com o vírus Zika que nunca demonstraram qualquer sintoma da doença podem, mesmo assim, ter um bebê com microcefalia.

Uma vacina efetiva é urgentemente necessária para mulheres em idade fértil e pessoas que viajam a áreas onde há relatos do vírus. Uma vez que o vírus Zika também pode ser sexualmente transmitido, prevenir a infecção em homens por meio de vacinação também pode ajudar a bloquear a transmissão.

Avanços promissores em direção a uma vacina para o Zika tem sido feitos. Estas vacinas em desenvolvimento foram feitas a partir de uma versão inativa do vírus ou de subunidades dele. Estes candidatos à vacina se mostraram eficazes em camundongos e primatas não-humanos.

"Escolhemos buscar uma vacina feita a partir de um vírus vivo que foi enfraquecido, por razões de segurança, e era capaz de gerar uma resposta imune robusta para nos proteger contra a infecção por Zika. Essa vacina atenuada tem as vantagens de requerer uma única dose de imunização, resposta imunológica rápida e forte, além de proteção potencialmente prolongada", disse Pei-Yong Shi, autor sênior e professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UTMB. "Uma vacina bem sucedida requer um equilíbrio preciso entre eficácia e segurança - vacinas feitas a partir de vírus vivos atenuados geralmente oferecem imunidade rápida e duradoura, mas, às vezes, em troca de segurança reduzida; os vírus inativados e subunidades frequentemente proporcionam maior segurança, mas podem exigir várias doses iniciais e reforços periódicos.Portanto, uma vacina viva atenuada segura será ideal na prevenção da infecção pelo vírus Zika, especialmente em países em desenvolvimento.”

Para criar a vacina, os pesquisadores manipularam o vírus Zika eliminando um segmento do genoma viral. Uma abordagem semelhante tem sido utilizada com sucesso para desenvolver uma vacina contra o vírus da dengue, atualmente na fase três de testes clínicos.

Shi explicou que os dados indicam que a vacina em desenvolvimento pela equipe tem um bom equilíbrio entre segurança e eficácia. Uma única imunização com a vacina candidata produziu fortes respostas imunológicas e impediu totalmente que o vírus infectasse os camundongos.

"A segurança é um grande obstáculo ao desenvolver uma vacina atenuada. Nossa vacina contra Zika mostrou um perfil de segurança promissor em camundongos quando comparada com vacinas vivas atenuadas clinicamente aprovadas, como a contra febre amarela", disse Shi.

"As vacinas são uma ferramenta importante para a prevenção da microcefalia e da transmissão do vírus Zika", disse Pedro F. C. Vasconcelos, virologista médico, atual diretor do Instituto Evandro Chagas e co-autor do estudo. "Essa vacina, a primeira atenuada para Zika, irá melhorar as ações da saúde pública para evitar defeitos de nascença e doenças causadas pelo vírus em países onde ele é comumente encontrado. O alvo inicial de vacinação são as mulheres em idade fértil, seus parceiros sexuais e crianças com menos de dez anos de idade.”



University of Texas Medical Branch at Galveston


Fonte:http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/primeira_candidata_a_vacina_atenuada_protege_completamente_contra_a_infeccao_por_zika.html

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Os estranhos animais híbridos criados pelas mudanças climáticas

 Anfíbios de espécies diferentes cruzam entre si como resultado de mudanças ambientais.  (Foto: M. Zampiglia)
Casos de espécies diferentes cruzando entre si e gerando estranhos animais híbridos, vem se tornando cada vez mais comuns em meio às mudanças climáticas.
Pesquisadores da Universidade de Tuscia, na Itália, flagraram a cena da imagem acima no parque de Partenio, no sul do país. A fêmea é um exemplar do sapo-europeu (Bufo bufo), uma espécie encontrada em quase todo o continente, enquanto que o macho é um sapo-balear (Bufotes balearicus), característico do sul da Itália, Córsega e Ilhas Baleares (Espanha).
Há vários casos naturais de hibridização, especialmente quando as espécies têm genomas semelhantes. O que espantou cientistas no flagra dos sapos foi que as duas espécies estão geneticamente separadas por 30 milhões de anos no processo de evolução.
As duas espécies voltaram a se misturar na reprodução por causa do aquecimento global, o que pode se tornar uma tendência cada vez mais frequente, segundo um estudo publicado no periódico científico "PeerJ" (em inglês).

"A hibridização é muito mais comum entre espécies de plantas e animais que estão estreitamente relacionadas. Para se ter uma ideia, cerca de 25% das plantas e 10% dos animais sofrem um processo de hibridização", explicou à BBC Mundo Daniele Canestrelli, autora principal da pesquisa.
O estudo sugere que as mudanças climáticas acabaram atrasando o ciclo reprodutivo do Bufo bufo, que coincidiu com a do Bufotes balearicus. Enquanto isso, essa última espécie tem se expandido para outras áreas geográficas.

Outros casos

  • Grolar: um híbrido gerado pelo cruzamento do urso pardo com o urso polar.
  • Coywolf: nome em inglês que surge do cruzamento de coiotes e lobos.
  • Hibridização entre a foca-anelada e a foca-manchada.
  • Narluga: híbrido entre o narval (também conhecido unicórnio do mar) e a beluga (cetáceo que habita o Ártico).
  • Esquilo-voador-do-sul e esquilo-voador-do-norte.
  • Lebre-europeia e lebre-da-montanha.

Vantagens e desvantagens

De acordo com Canestrelli, há consequências diferentes para a hibridização natural e aquela influenciada pelo homem.
"As espécies mais relacionadas entre si compartilham parte de seu genoma como consequência da hibridização. Ou seja, os híbridos são em parte viáveis e férteis, enquanto que as espécies mais distantes costumam não ter trocas genéticas".
No caso do casal de sapos, os girinos apresentaram malformações, e nenhum chegou a completar o ciclo completo de metamorfose até se tornar um anfíbio adulto.
Apesar do papel importante das mudanças climáticas no caso de hibridização de sapos - e no de ursos, influenciada pelo derretimento de gelo no Ártico - há outros fatores que pesaram, "como por exemplo as alterações de habitats provocadas pelo homem ou a introdução de espécies em outros ambientes", dizem os pesquisadores.
Entre os riscos da hibridização provocada pela ação humana, estão a fusão de espécies (como o caso de alguns peixes africanos) ou a substituição de uma espécie por outra (como se vê em muitos casos de espécies invasoras), segundo Canestrelli.
No entanto, quando o processo ocorre naturalmente, ele pode trazer benefícios evolutivos. No caso do homem moderno, por exemplo, fomos capazes de colonizar latitudes mais elevadas por conta da hibridização com neandertais, nossos parentes mais próximos e já extintos.

Fonte:http://g1.globo.com/natureza/noticia/os-estranhos-animais-hibridos-criados-pelas-mudancas-climaticas.ghtml