sábado, 11 de setembro de 2010

“Quando eu era atleta”

“Quando eu era atleta”
Essa frase aí não é minha, embora pudesse ser, já que pratiquei esportes minha vida toda. Essa frase veio de um aluno meu que tem apenas 17 anos, isso mesmo 17 anos. Falávamos dos malefícios que as drogas e o álcool têm infringido sobre os jovens. Fiquei indignado ao ver uma criança naquela idade fazer referência ao fato como se fosse algo distante, décadas atrás talvez. Mas infelizmente estamos falando de uma realidade bem atual. A falta de políticas públicas e o descaso das autoridades competentes fazem multiplicar uma geração de jovens ociosos que, não tendo nada melhor pra fazer vão buscar opções não tão saudáveis. Será que estou mentindo? Exagerando? Levando isso para o lado político? Ou será que estou apenas constatando uma realidade triste no maior município do Sertão central, que tem um potencial esportivo enorme com profissionais qualificados e um sem número de atletas em potencial?

Será que é tão difícil ver o esporte como uma poderosa ferramenta de integração social, de lazer, de saúde, de ocupação do tempo ocioso. Será que as autoridades competentes não enxergam o sem número de projetos ligados ao esporte que são patrocinados pelo governo federal que poderiam facilmente ser conseguidos já que temos uma administração “parceira” como governo federal? Ou será por que o esporte não dá o “retorno” esperado por quem geralmente entra na política dizendo que vai ajudar o povo? Não sei a resposta, o que sei é que cada dia pais estão perdendo seus filhos para o crime e as drogas, cada dia mais constatamos coisas que nos deixam horrorizados como aquele Pólo de Lazer do Eurípedes cada dia mais abandonado, o mato tomando de conta, a iluminação que não é consertada, o alambrado caindo. Ainda me disseram que foi destinado quase um milhão de reais para a reforma e ampliação, só posso crer numa “espiga de milho bem grande” por que do caso contrário, fica difícil engolir mais essa.

Cresci vendo o futsal de Quixadá brilhar nos campeonatos intermunicipais, tudo bem que tinha atletas de fora, mas lotava o BCC, a AABB e o Ginásio Coberto. Todo mundo queria ver aqueles craques jogarem, o que inspirou muitos jovens a começarem a praticar esportes, todos sonhando um dia poder substituir seus ídolos, ser como eles. A que se resumiu o futsal em Quixadá? Quando aquele Ginásio esteve pelo menos com um público razoável vendo um jogo? Quantos jovens jogam hoje pensando em ser o craque do amanhã? Quais políticas públicas para fomentar esses esporte em nosso município? Respondam por favor, mas de forma clara o objetiva e não com falácia como temos visto ultimamente. Quais os resultados palpáveis das “políticas para a juventude” que alardeiam por aí? Posso até está mal informado, talvez alguém que não seja um bajulador possa ajudar e aplacar esse sentimento de desalento que sinto quando falo do tema.

E o vôlei, esporte que pratiquei minha vida toda, que me deu oportunidade de participar de 02 campeonatos brasileiros, viajar o nosso e outros estados participando de competições. Hoje praticamente nem existe mais, com exceção de uns poucos que tentam jogar, na quase escuridão de uma quadra de areia no Ginásio Coberto. Um esporte que Quixadá já foi referência no estado, não consegue hoje se classificar para além da primeira fase dos jogos escolares. É realmente muito triste.

E Handebol? Que possui uma equipe que foi vice-campeã de um intermunicipal, 06 vezes campeã universitária dentre outros títulos, sobrevive graças ao Prof. Alessandro que com muito esforço não deixa morrer essa fagulha que teima em se manter acesa.

O Basquete que não tem nem onde jogar? Vivem mendigando apoio para participar das competições afora.

O ciclismo que já revelou atletas de ponta no cenário Norte-Nordeste nem se escuta falar.

O pedestrianismo que já teve atletas participando de competições importantes no cenário nacional, também anda sumido.

Qual foi a última vez que foi feita uma competição em grande escala em Quixadá? Não vale aquela demonstração de basquete de rua que trouxeram um rap per que levou quase o orçamento do ano todo para o esporte e que quase ninguém assistiu. Quando faz, ainda aplica mal os já escassos recursos. Não conseguimos trazer nem uma fase dos Jogos Escolares para cá. Enquanto nosso secretário estava sozinho tentando trazer os jogos para cá, os prefeitos dos outros municípios que pleiteamos sediar a competição estavam lá usando sua influência, resultado perdemos para Mombaça, no ano seguinte para Quixeramobim. Detalhe, essas duas prefeituras são administradas pelo PSDB, oposição ao governo do estado e nacional. Como pode? Não entendo. Prá mim é incompetência ou falta de vontade política ou os dois.

Preocupo-me muito com a importância dada pelo poder público ao esporte. A começar pelo orçamento de miséria aprovado pela Câmara de Vereadores, que não tenho nem coragem de falar. Depois, temos uma secretaria que já nasceu natimorta, com uma equipe que até tem vontade de acertar, mas que infelizmente não consegue engrenar. Não quero culpar o secretário, pois, apesar de não ser do meio esportivo, tem boa vontade. Mas de boas intenções o inferno.

Mas de repente vai aparecer alguém com um monte de número fabricados dizendo que tá tudo uma beleza e que hoje o esporte nunca esteve tão bem. Será que ainda cola?

Mas o tenho visto é aumento exponencial do consumo de drogas entre os jovens. O que tenho visto é muita conversa fiada, e cada dia perdemos mais e mais ex-futuros atletas para o “mal do século”como muito gostam de falar.

Tenho um filho em idade colegial que adora bola, se dedica, malha, treina tudo que é possível na escola, mas que daqui a alguns anos será mais um que se lembrará do longínquo tempo de “Quando era atleta”.

Prof. João Luiz - Janjão

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