sexta-feira, 18 de março de 2011

Impactos sobre o Japão


                                                                                

          Em menos de uma semana, milhões, talvez bilhões de pessoas em todo o mundo aprenderam, com a duríssima lição japonesa, conceitos básicos de geofísica.
            Com o terremoto, seguido de tsunami que afetou e ainda afeta o nordeste do Japão, placa tectônica foi um conceito incorporado ao cotidiano de pessoas que vão de donas de casa a estudantes, passando por economistas e políticos.
            É verdade que a mídia ainda utiliza “graus” para se referir à intensidade de um sismo, quando deveria usar magnitude.
            A questão, aqui, não é de pura terminologia, mas tanto de procedência quanto, principalmente, de traduzir a intensidade energética desses fenômenos.
            Em sismologia, magnitude como unidade de intensidade de um tremor de terra, é uma referência de natureza logarítmica. Indica, por exemplo, que um sismo de magnitude 6 é dez vezes mais poderoso que um de magnitude 5. E que um de magnitude 7, é 100 vezes mais que o de 5.
            Sismos de magnitude 5 são relativamente comuns tanto no Japão ─ com território situado sobre convergências de placa tectônicas ─ quanto em outras regiões, como o Nordeste brasileiro, ainda que as razões para isso sejam distintas.
            No Japão há um constante e incessante atrito de bordas de placas, como enormes jangadas movimentando-se em atrito umas com as outras, e algumas mergulhando sob outra ou outras.
            No nordeste brasileiro e outras regiões do Brasil, os sismos eventuais se dão junto a falhas geológicas, ou seja, porções da placa tectônica ─ a Sul Americana ─ fraturadas e não devidamente “soldadas” ao longo do tempo.
            No caso do Japão, no entanto, com sismo que chegou a ser interpretado como de magnitude de magnitude 9, o tremor foi 10 mil vezes mais poderoso que os que têm ocorrido no nordeste brasileiro, de magnitude 5.

Efeito antrópico
A primeira reação das pessoas, em geral, é associar fenômenos como sismos e vulcanismo ─ processos também derivado do atrito ou ruptura de placas tectônicas ─ a ações produzidas por atividades humanas.
            Já conseguimos, é verdade, como resultado de atividades tanto agrícolas quanto industriais, alterar a atmosfera da Terra, ainda que essa cobertura vital para a vida possa ser comparada à casca de uma maçã, em relação ao volume da fruta.
            Mas interferir no deslocamento de placas tectônicas é algo que ainda estamos muito longe de fazer porque isso implicar manipular o coração quente da Terra há quase 6 mil km de profundidade.
            Carente de conceitos de ciência, no entanto, mesmo pessoas medianamente informadas acabam impactadas com o efeito de fenômenos que parecem ter a mesma origem: a pretensa mão deformadora do homem, visão que deriva de certo fundamentalismo religioso. Mais especificamente o cristianismo, entre as religiões modernas.
            A verdade, no entanto, é que os sismos/vulcanismos só ocorrem porque a Terra está geologicamente viva. Isso significa que ela recicla gases de efeito estufa, especialmente o gás carbônico, e isso cria um “cobertor” atmosférico que distribui mais uniformemente a temperatura pelo corpo planetário e permite a manifestação da vida como a conhecemos, incluindo uma civilização como a nossa (ainda que esta seja a única que conhecemos).
            Isso significa dizer que uma Terra geologicamente morta (como pode ser o caso da Lua ou de Marte) as condições ambientais do planeta seriam radicalmente diferentes e não estaríamos aqui para escrever ou ler este relato. E não apenas por uma única razão.
            Geologicamente morta, a Terra não disporia de um campo magnético e com isso não disporíamos de um escudo magnético capaz de nos proteger contra o bombardeio de partículas de alta energia emitido pelo Sol (vento solar).
Especialmente durante os períodos cíclicos de explosões solares que estão reiniciando com ligeiro atraso.

Fontes de energia
Um dos desdobramentos mais importantes do terremoto/tsunami sobre o território do Japão já começa a manifestar-se sob a forma de matriz energética.
            Uma parcela do ambientalismo, que se mostra como a posição variável das birutas de aeroportos, já se manifesta contra a energia nuclear.
            Esta é, de certa forma, uma posição compreensível, levando em conta o impacto de um acidente numa dessas instalações. E o que ocorre no Japão, neste momento, não é o primeiro, nem o segundo ou mesmo o terceiro de um desses episódios extremamente preocupantes.
            Mas, o que fazer?
            Voltar à carga com combustíveis fósseis?
            Essa é, mesmo a curto prazo, uma solução insustentável, levando em conta o efeito estufa de natureza antrópica e que, tudo indica, está sim associado a mudanças climáticas com dramáticos acidentes ambientais como chuvas e ventos destruidoras em diferentes regiões do planeta.
            Fontes renováveis como energia eólica, energia solar e outras fontes têm aumentado sua participação na matriz energética mundial, mas é impensável pensar que possam substituir petróleo ou energia nuclear.
            Hidrelétricas, a matriz energética brasileira básica depende, evidentemente, de grandes estoques de água, o que não é o caso em boa parte do mundo.
            E mesmo hidrelétricas, além do impacto ambiental negativo de inundação de áreas, tem contribuição em relação ao efeito estufa que só recentemente passaram a ser reconhecidas.
            Como se não bastasse, fusão nuclear, a energia das estrelas, mais segura que a fissão, talvez só esteja disponível ao final de umas cinco décadas de investigação científica/refinamento tecnológico.
            Sem falar que as fontes tradicionais de petróleo passam por transformações políticas altamente desestabilizadoras neste momento, no caso de países árabes.
            Em vez de puramente protestar contra usinas nucleares, talvez seja mais prudente exigir dos governos ampliação da margem de segurança dessas unidades, com inspeções mais rigorosas e abandono (o que por si só já é uma atividade altamente complexa) de usinas consideradas superadas tecnologicamente.
            Em alguns momentos da história o mundo parece próximo do fim, como apregoam de tempos em tempos, interpretações místico/religiosas ou cinema de qualidade ordinária.
Quem viveu o bombardeio nuclear sobre o mesmo Japão, em 1945, pode ter pensado que o planeta arderia sob o fogo atômico.
Gerações que viveram sob a Guerra Fria também tiveram experiências bem próximas disso e, apesar de tudo, ainda estamos aqui.
Para o melhor e o pior, um observador mais cínico poderia acrescentar.
Mas as coisas realmente parecem ser assim.


 Fonte: Blog sciam, por Ulisses Capozzoli

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