sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A proibição dos medicamentos emagrecedores no Brasil



Finalmente a novela da proibição dos medicamentos emagrecedores chegou ao fim. Foram muitos meses de debates e argumentação da maioria das sociedades médicas que cuidam dos pacientes obesos para que a Anvisa reavaliasse sua posição inicial de proibir todos os medicamentos emagrecedores com ação no sistema nervoso central. Ontem, dia 04 de outubro, o veredito foi revelado e a decisão poupou a sibutramina e aboliu os demais redutores de apetite conhecidos como derivados da anfetamina, o femproporex, a anfepramona e o mazindol.
Os medicamentos que tiveram seus registros cancelados são comercializados no Brasil há mais de 30 anos e são conhecidos por seus potentes efeitos redutores do apetite e estimulantes do sistema nervoso central. Com tanto tempo de uso, esses medicamentos são bem conhecidos e nada deles nos escapa da observação clínica. Sabemos muito bem quem pode ou não utilizá-los e os próprios pacientes fazem a seleção natural da possibilidade de uso, uma vez que seus efeitos colaterais são bem definidos.
O uso dos derivados anfetamínicos sofreu redução significativa após a descoberta da sibutramina há cerca de 15 anos e principalmente após a proibição de sua associação com os ansiolíticos. Atualmente, esses medicamentos tem sua indicação restrita a um pequeno número de pacientes que os tolera muito bem e com um efeito emagrecedor muito bom. Infelizmente, sabemos que seu uso continua ocorrendo sob a forma de prescrições irregulares, sem uma vigilância adequada e com o aval da pouca informação de alguns pacientes.  
Quando discutimos as formas ideais de perda de peso, nós descobrimos que elas são de muito difícil execução. Ninguém prefere tomar remédios, porque gosta deles. A maioria das pessoas que toma remédios para emagrecer declara não conseguir seguir um plano alimentar e mudar estilo de vida. A obesidade é uma doença crônica como o diabetes ou a hipertensão arterial. Não se pode ter tanto preconceito com o tratamento medicamentoso da obesidade como vem ocorrendo. É bem certo que há erros médicos, de vigilância e dos próprios pacientes. Mesmo assim, esses pacientes precisam de tratamento e para muitos deles, esse tratamento só é possível com o uso de medicamentos.
Nós entendemos que a proibição não resolverá o problema do abuso de medicamentos para emagrecer. O uso indevido e clandestino continuará ocorrendo. A decisão da Anvisa punirá justamente quem segue os ditames da agência reguladora Inicialmente a Anvisa estava firmemente decidida a proibir todos os medicamentos emagrecedores disponíveis no Brasil. Após grande reação da classe médica envolvida no tratamento da obesidade, resolve proibir os derivados da anfetamina.
O problema da obesidade deve ser encarado com maior cuidado e sem tanto preconceito. Precisamos conseguir fazer vigilância. Não nos pergunte como, pois não sabemos. Não é esse o nosso papel. O nosso trabalho foi sempre multidisciplinar e a Nutrição sempre teve um destaque em nossa equipe. Sabemos muito bem da grande dificuldade que enfrentamos para o tratamento da obesidade. Não podemos abrir mão dos medicamentos e tratar a obesidade apelando apenas para a força de vontade dos nossos pacientes, como se eles fosses obesos por falta de força de vontade. A história é muito mais complexa e envolve os tempos modernos, a política de alimentos, a indústria alimentícia, o trabalho nas empresas e a estrutura das famílias. É muito simplista dizer que médicos e pacientes estão errados e devem ser punidos com a suspensão dos medicamentos. Porque usam mal, porque são irresponsáveis, porque não tem força de vontade. Precisamos educação nas escolas, regras mais rigorosas à indústria de alimentos e de uma legislação que pare de punir os pacientes e seus médicos e enfrentem o problema da obesidade em todas as suas vertentes.

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